A série mergulha nos dilemas silenciosos da juventude contemporânea e convida pais e responsáveis a prestarem atenção ao que muitas vezes não é dito, mas sentido. Por meio de cenas que capturam os conflitos emocionais e sociais enfrentados pelos adolescentes, a produção escancara a importância da comunicação não-verbal no cotidiano familiar.
É o que reforça o especialista em comunicação e oratória com mais de 15 anos de estudos dedicados ao assunto, Giovanni Begossi
: “A falta de diálogo direto é muito recorrente nessa fase - eu falo até por experiência própria porque fui muito introspectivo e sofri com o bullying - mas é importante observar os olhares desviados, as portas que batem e os socos na mesa ou na parede. Isso tudo entrega muito mais do que qualquer discurso”, diz.
Com uma narrativa centrada em um grupo de jovens que enfrentam desafios típicos da adolescência - como relações instáveis, bullying e o impacto das redes sociais - a série reforça o papel da escuta visual, que observa o que o corpo comunica como ferramenta essencial de cuidado.
“Ao retratar interações familiares marcadas pelo distanciamento, como é o caso do investigador com o filho e até do próprio protagonista, a produção reforça como a falta de convívio, de contato visual ou o simples fato de chamar o filho de filho podem provocar alterações emocionais ou dificuldade de expressão verbal por parte dos jovens. A leitura atenta desses sinais é importante para estabelecer vínculos com mais empatia e canais de diálogo mais efetivos”, aponta.
As redes sociais, tratadas como extensão emocional dos personagens, também podem ser reveladoras e funcionam como um novo espaço de expressão não-verbal. A ausência de publicações ou posts com frases vagas, fotos carregadas de simbolismos e interações digitais sugerem estados emocionais que escapam do convívio direto.
“A série escancara como é importante não apenas observar esses sinais, mas estar disposto a compreendê-los sem julgamento. Se o adolescente não se abre, conversar com amigos é um caminho, como os emojis cheios de significados que um dos episódios mostra, adultos possivelmente vão estar por fora disso, mas podem e devem contar com a ajuda seja da escola, dos professores ou até dos amigos mesmo para se manter por dentro desse universo”, explica.
Para Giovanni, que dá treinamentos sobre os diversos tipos de linguagens em empresas de todos os segmentos e já atuou também no GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais da PM de SP), é no gesto contido ou explosivo, no silêncio prolongado e na mudança súbita de comportamento que os jovens muitas vezes pedem ajuda. “Há uma narrativa paralela à verbal e ela merece atenção. Ao ampliar o olhar sobre a adolescência além do que é dito, essa série sugere que as famílias reflitam sobre a escuta ativa, presença afetiva e leitura sensível do cotidiano”, finaliza.