“Não sei se fui a pessoa certa para ir à cabine desse filme.”
Esse foi o pensamento que me ocorreu ao sair da sessão de imprensa de Babygirl. Dirigido e escrito por Halina Reijn, o filme estreou hoje, 9 de janeiro, e era uma das produções que eu mais aguardava nesta temporada de premiações. Os elogios prévios ao roteiro e à atuação de Nicole Kidman me deixaram cheia de expectativas, mas, ao assistir, minhas impressões acabaram sendo bem diferentes.
Sinopse
Não recomendado para menores de 18 anos
Em Babygirl, Halina Reijn explora as nuances das dinâmicas de poder e desejo em um thriller erótico que promete subverter convenções. Romy (Nicole Kidman) é uma CEO bem-sucedida que parece ter tudo sob controle: uma carreira consolidada, um casamento estável com Jacob (Antonio Banderas) e uma vida equilibrada. No entanto, a fachada começa a desmoronar quando ela se envolve em um caso clandestino com Samuel (Harris Dickinson), um estagiário consideravelmente mais jovem. A relação perigosa coloca em risco não apenas sua reputação e família, mas também sua autoconfiança, à medida que Romy se perde entre desejo e responsabilidades.
Uma Trama Cheia de Promessas, Mas Sem Culminância
A proposta de Babygirl é ambiciosa: um mergulho no erotismo como forma de autodescoberta, explorando inversões de poder, consentimento e autossabotagem. Contudo, o filme hesita em ir além das superfícies. Halina Reijn, que demonstrou audácia em seu longa de estreia, parece aqui conter-se, deixando questões importantes — como abuso e quem realmente detém o controle na relação entre Romy e Samuel — apenas sugeridas.
Momentos que deveriam pulsar com tensão e sensualidade acabam sendo interrompidos por um roteiro que parece ter medo de ousar. O resultado é uma trama que, apesar do potencial, estaciona em uma zona segura, privando o espectador da intensidade que o gênero exige.
Além disso, os diálogos, em sua maioria, soaram artificiais, criando uma desconexão incômoda. Era difícil não sentir um constrangimento crescente com certas interações, como se algo essencial estivesse sendo forçado ou faltando.
Entre Erotismo e Autodescoberta
No centro de Babygirl está o erotismo, não apenas como busca por prazer, mas como um veículo para questionamentos internos e rupturas com as normas. Romy utiliza sua relação com Samuel como uma forma de explorar sua identidade e lidar com pressões impostas pela sociedade e por si mesma. Apesar disso, o filme parece recuar quando se trata de mergulhar mais profundamente nas complexidades de consentimento, poder e vulnerabilidade.
Atuações: Um Brilho Moderado
Nicole Kidman é uma atriz consagrada, mas sua performance em Babygirl não atinge o impacto esperado. Sua tentativa de evocar uma versão mais jovem e desinibida de si mesma resulta, em momentos, em interpretações constrangedoras, que parecem desconectadas da trama.
Por outro lado, Harris Dickinson entrega uma atuação mais sólida, equilibrando sensualidade e ingenuidade em seu papel como Samuel. Ainda assim, ele também fica preso a um roteiro que não o permite ir além do previsível.
Ousadia Contida
Embora Babygirl seja vendido como um thriller erótico ousado, a execução fica aquém das expectativas. Reijn, uma diretora holandesa, parece ter adaptado sua visão para atender a uma narrativa mais alinhada ao cinema comercial americano, abandonando a intensidade característica de produções europeias do gênero.
Filmes como A Rainha de Copas e A Professora de Piano oferecem comparações inevitáveis, mostrando o que Babygirl poderia ter sido se tivesse abraçado uma abordagem mais corajosa.
Conclusão
Apesar das promessas e do grande nome de Nicole Kidman, Babygirl é um filme que não atinge todo o seu potencial. Sua trama, atuações e direção carecem de profundidade e ousadia, resultando em uma obra que poderia ter sido marcante, mas que se mantém apenas na superfície do gênero que se propõe a explorar.