Cinema

Crítica: O Auto da Compadecida 2 - Nostalgia Não Justifica Narrativas Medianas

João Grilo, Matheus Nachtergaele, e Chicó, Selton Mello, retornam para novas aventuras em O Auto da Compadecida 2


O Auto da Compadecida, filme com Matheus Nachtergaele e Selton Mello reprisando os personagens icônicos João Grilo e Chicó, estreou dia 25 de dezembro nos cinemas de todo o Brasil.

Sinopse

Depois de 20 anos desaparecido, João Grilo retorna à pequena Taperoá para se juntar ao seu velho companheiro Chicó. Acontece que agora ele é recebido como uma celebridade na cidade. Afinal, reza a lenda que havia sido morto por bala de espingarda e ressuscitado após um julgamento que tinha o Diabo como acusador, Nossa Senhora como defensora e o próprio
Jesus Cristo como juiz. Disputado como principal cabo eleitoral pelos dois políticos mais poderosos da cidade, ele faz de tudo para finalmente aplicar
o golpe que vai lhe render muito dinheiro e, quem sabe, vida mansa – como se fosse possível que ele se aquietasse.Só que nada sai como planejado e ele terá que recorrer à Compadecida novamente.

Estávamos prontos para essa sequência?

O grande problema de O Auto da Compadecida 2 é a expectativa que criamos baseada no primeiro filme, aliás expectativa que assombra sequências e remakes, que serve como desculpa para realização de trilogias e outras sagas. Ocorre que a sequência é inferior ao primeiro logo, isso acontece porque o roteiro não tem a mesma força do seu antecessor.
Para mim o que mais me incomodou foi a falta de cenas externas. Como o filme inteiro foi gravado em estúdio, fica difícil acreditar que Taperoá é uma cidade real. Acredito que isso seria facilmente resolvido assumindo que estamos assistindo uma peça teatral que conta as aventuras de Chicó e João Grilo, muito tempo depois.

Pois, mesmo usando inteligência artificial para criar os cenários, que mais atrapalhou que ajudou, não foi o suficiente para disfarçar o aspecto artificial da narrativa. A minissérie "Hoje é Dia de Maria”, de 2005, é um excelente exemplo de conteúdo audiovisual gravado em estúdio que podia ter sido usada como referência para a produção de O Auto da Compadecida 2.

Sobre representatividade

Ainda que a Compadecida de Taís Araujo esteja alinhada com o contexto histórico-social de 2024, representando uma das diversas versões de Maria que existem em nosso país, o mesmo não acontece com o Jesus de Matheus Nachtergaele, que com sua peruca de cabelos loiros encaracolados preservar a imagem de Nazareno eurocêntrico.

Com relação a Chicó, parece que ele parou no tempo, enquanto os outros personagens viveram outras aventuras além do que acontece no primeiro filme, o personagem de Selton Mello ficou estacionado no tempo, não tendo grandes narrativas após os quase 25 anos que ficou sem saber do paradeiro de João Grilo e notícias de Rosinha.

Enfim, O Auto da Compadecida 2 é um filme que não alcança a mesma qualidade técnica e narrativa do primeiro, sendo uma reunião de efeitos visuais de gosto duvidoso, com personagens novos que não têm o mesmo carisma dos que acompanhamos no longa de 2000.


Ficha Técnica

Título: O Auto da Compadecida 2
Título original: O Auto da Compadecida 2
País: Brasil
Data de estreia: 25 de dezembro de 2024
Gênero: Comédia dramática
Duração: 114 minutos
Classificação: 12 anos
Distribuidora: H20 Films
Direção: Flávia Lacerda e Guel Arraes
Elenco: Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Taís Araujo, Humberto Martins, Luis Miranda, Eduardo Sterblitch, Fabiula Nascimento, Virginia Cavendish e Enrique Diaz.



Kika Ernane, Karina no RG, e sou multitasking (agora que aprendi o significado do termo segura). Uma mulher como muitas da minha geração, que ainda não descobriram como aproveitar a liberdade que lutaram tanto para conseguir. Muito menos administrar todas as tecnologias disponíveis. Enfim, estou sempre aprendendo.


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