Cinema

Crítica - Blackberry – filme que conta o sucesso e declínio do primeiro smartphone comercial tem personagens caricatos e narrativa caótica

Blackberry filme sobre o primeiro smartphone, com Jay Baruchel, Glenn Howerton, Matt Johnson apresenta os bastidores obscuros do setor da tecnologia

Junte um expert em desenvolvimento de produtos, um negociador sem escrúpulos e um cara que só queria ambiente de trabalho legal, e teremos a narrativa sobre uma sucessão de erros que acabou com a história de sucesso do primeiro smartphone conhecido mundialmente.

Blackberry foi o primeiro celular, que conquistou o mundo, com a proposta de ser um computador de mão. Proposta um tanto ambiciosa para a época, que se aproveitou do desconhecimento das grandes empresas do potencial da internet, ou melhor, em sua insistência em não investir em novas tecnologias, atitude que fez com que durante anos não investissem na internet. Permitindo que pessoas visionárias criassem produtos revolucionários sem restrições, ou interferências. Afinal, estamos falando da época que tudo era mato, uma terra sem lei, sem limites e sem regras de criação. Hoje, existem processos e documentos que precisam ser considerados na hora de criar um App, como, por exemplo, a distância mínima entre botões.

Sinopse

Blackberry conta a história da incrível ascensão e do trágico declínio do primeiro smartphone do mundo. A tecnologia criada por Mike Lazaridis (Jay Baruchel) e seu melhor amigo, Douglas Fregin (Matt Johnson), aliada ao dinheiro e a experiência do empresário Jim Balsillie (Glen Howerton), transforma completamente a forma como as pessoas se comunicam em 1996. Celebridades, políticos e empresários estão viciados em seus Blackberrys e o valor da empresa canadense dispara. No entanto, em poucos anos, segredos obscuros, disputas pessoais e, o maior perigo de todos, a chegada do iPhone, ameaçam o incrível sucesso da companhia.


Personagens que não engajam

Mike Lazaridis, Jay Baruchel, era o típico desenvolvedor, com muita capacidade de criação, mas nenhuma habilidade de negociação. Seu melhor amigo e sócio Douglas Fregin, Matt Johnson, é seu maior incentivador, o cara legal do escritório que ama Star Wars e que não consegue deixar a adolescência. Dois personagens extremamente estereotipados, facilmente encontrado em comédias dos anos 1980. A forma como são apresentados chega a ser ofensiva em alguns momentos, por causa de suas reações exageradas e falta de compromisso com a vida adulta.

Já Jim Balsillie, Glenn Howerton é um homem sem escrúpulos, que não se importa em puxar alguns tapetes para atingir seus objetivos. Com sua personalidade explosiva, consegue convencer Mike e Doug a vender parte de sua empresa com a promessa de que conseguiria o investimento necessário para produção de seus smartphones. Lembrando que na época, final dos anos 1990, o termo smartphone ainda não era utilizado.


Os três personagens sofrem com o mesmo problema, ausência de carisma, você não consegue se conectar com nenhum deles, e criar aquela identificação que faz você torcer até pelo vilão. Balsillie é tão sem caráter que não tem como passar um pano.

Mike é um cara que deixa os outros tomarem a decisão por si mesmo para não precisar entrar em conflitos, cara o produto é seu, lute pó ele. Porém escolhe sempre a saída mais fácil, deixar que outro faça o papel de policial mal, e estamos falando de uma pessoa com zero caráter.

Por fim, Doug é o alivio cômico do filme, mas que se perde, pois não existe um personagem forte o suficiente para contrastar com sua atitude otimista. Por isso, em alguns momentos ele parece só um “palerma”, o que é bem triste, já que Doug é um dos caras mais ricos dos EUA.


Narrativa inspirada em The Office

A construção da narrativa e fotografia é inspirada em The Office, com aqueles cortes caóticos e câmera que parece estar sendo operada por uma pessoa sem habilidades técnicas. Assim como em The Office, o personagem de Glenn Howerton é desprezível, alguém que as pessoas engolem por obrigação, elevando a décima potencia o termo “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Entretanto, sem a mesma competência de Steve Carrell.

O roteiro tem muitas piadas que funcionam, entretanto todas baseadas na caricatura que cada personagem é, com personalidades tão extremas que beiram ao absurdo, por isso em alguns momentos a narrativa se torna incômoda, pois, esse tipo de representação de pessoas que trabalham com tecnologia está ultrapassada. Tudo bem que o filme se passa no final dos anos 1990, mas ele está sendo assistido por pessoas 2023, com tudo o que já evoluímos até o momento. Logo, não dá para ignorar o quanto é problemática.


Blackberry é uma história que mostra como o quanto o setor de tecnologia é insano, reunindo pessoas com ótimas ideias, mas nenhuma habilidade de negociação, indivíduos que se aproveitam de sua posição para prejudicar sem o menor remorso, ambientes repletos de fura-olhos e pessoas que acreditam que podem mudar o mundo, e mudam. Apesar de serem as que fazem a diferença, não são suas histórias que estamos vendo sendo contada nas telas.

Enfim, se você é fã da narrativa evasiva e Michael Scott, de The Office, Blackberry é uma história que vai agradar. No entanto, se você está cansado de personagens extremamente caricatos, fuja. Pois, estamos falando de um roteiro onde o assédio, de todas as formas, é normalizado, o que aciona alguns gatilhos. Simplesmente, não consigo odiar, nem gostar desse filme.

Ficha técnica

Título: BlackBerry

Título original: BlackBerry

País: Canadá

Data de estreia: 12 de outubro de 2023

Gênero: Comédia Dramática

Duração: 120 minutos

Classificação: 10 anos

Distribuidora: Diamond Films

Direção: Matt Johnson

Elenco: Jay Baruchel, Glenn Howerton, Matt Johnson, Kelly Van Der Burg, Cary Elwes, Saul Rubinek, Michael Ironside e Rich Sommer.



Kika Ernane, Karina no RG, e sou multitasking (agora que aprendi o significado do termo segura). Uma mulher como muitas da minha geração, que ainda não descobriram como aproveitar a liberdade que lutaram tanto para conseguir. Muito menos administrar todas as tecnologias disponíveis. Enfim, estou sempre aprendendo.


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