No fim do ano passado, quando anunciaram que o Ash estava de saída do anime Pokémon, eu havia colocado como meta para 2023 assistir todos os filmes animados da franquia como uma forma própria de me despedir do personagem (e Detetive Pikachu também, como bônus). Por motivos de procrastinação e esquecimento, eu só fui me lembrar dessa meta recentemente.
Faltando 5 meses para o fim do ano, para poder cumprir o objetivo a tempo, eu decidi assistir 2 filmes por semana, o que daria um total de 12 semanas, aproximadamente 3 meses. E, para complementar a experiência que é revisitar alguns desses filmes e conhecer outros pela primeira vez, eu decidi escrever pequenos comentários a respeito dos longas assistidos. Estas são minhas Críticas Expressas ao primeiro e segundo filme de Pokémon.
Mewtwo Contra Ataca (1998)
O primeiro filme animado da franquia de monstrinhos de bolso contínua sendo icônico. Seu prelúdio de 10 minutos surpreende ao abordar temas como divórcio, luto e o próprio sentir das emoções para estabelecer o principal conflito de Mewtwo: quem ele é? O que ele é? O que significa para sua vida o fato dele ser um clone? Esse tipo de reflexão presente no início do anime é consequência da visão que Takeshi Shudo, o primeiro escritor chefe do anime e o roteirista desse filme, possuia e queria transmitir em ambas as produções.
Eu tinha me esquecido do quão determinado e cego o Mewtwo era. Determinado em varrer a humanidade e os Pokémon e repovoar a Terra com clones geneticamente modificados assim como ele próprio. Cego pelo ódio e sofrimento que Giovanni e os cientistas lhe causaram desde sua concepção. Isso reforça a atitude drástica do Ash em querer parar uma luta entre os originais e os clones, uma luta que cada vez mais parecia fútil porque nenhuma das partes estava mais interessada em lutar.
Morrer não estava nos planos, nem ressuscitar, mas a mensagem estava clara. E chegou aos ouvidos e coração de quem precisava. A célebre frase sobre a vida, aquela que fala como as experiências e decisões formam o ser que você é hoje e como isso pode ser mais importante do que o seu próprio ponto de partida, ainda é tão relevante e tão carregada de emoção, certeza e esperança quanto da primeira vez.
E, sim, toda a cena do Pikachu tentando acordar o Ash petrificado ainda dói como se fosse a primeira vez. Isso adiciona muito ao personagem, querendo ou não. Essa é uma outra influência da escrita do Shudo em usar o anime para retratar relações entre humanos e Pokémon e mostrar como o treinador era prepotente em seu início e como essa prepotência está instaurada no núcleo do personagem (querer ir no soco com um Pokémon lendário com poderes psíquicos, no que ele estava pensando?).
Talvez o único defeito sólido desse filme não seja nem em relação a seu enredo, que embora tenha alguns furos e inconsistências e subutilize a maioria dos personagens que não são o Ash e o Mewtwo.
Não, o principal defeito do filme é o uso de músicas licenciadas na dublagem internacional, especialmente no meio do filme e em cenas que precisavam de um arranjo que complementasse a carga dramática daquilo que estava acontecendo ao invés de completamente desconectar o espectador da atmosfera do filme.
Em um grau menor, eu não sei se, no final, a decisão de apagar a memória dos eventos do filme do trio de protagonistas foi a melhor escolha, mas é compreensível para que o status quo do anime fosse preservado.
Conforme revisei esse texto, tomei conhecimento de que existe um especial de 1 hora que dá continuidade aos eventos do filme dentro do anime, focando mais no Giovanni. Isso é interessante de saber porque o Mewtwo é fruto de uma pesquisa financiada pelo Giovanni e o próprio chefe da Equipe Rocket nem aparece fora do prólogo do longa. Talvez eu vá conferir depois.
O Poder de Um (1999)
Conhecido por aqui como Pokémon 2000 O Filme, O Poder de Um tenta elevar o senso de aventura e perigo ao promover a desarmonia entre as três aves lendárias da região de Kanto e o impacto ambiental causado por esse confronto. Ao mesmo tempo, ele tenta passar uma reflexão a respeito da fragilidade do equilíbrio da natureza, da imponência da natureza perante a humanidade, da conexão íntima que existe entre Pokémon e o meio ambiente em si.
E como eles fazem isso? Através de um vilão genérico resumido apenas a colecionar Pokémon lendários e ter uma nave com aquela estética 3D do início dos anos 2000 e uma jornada do herói genérica para o Ash. Já dá pra ver que eu tenho opiniões variadas a respeito da execução do roteiro.
No quesito técnico, entretanto, o filme não deveu em nada. Na verdade, sinto que a produção foi, de certa forma, criativa ao explorar algumas possibilidades trazidas pelo mini desastre natural causado pela luta entre Articuno, Moltres, Zapdos e, posteriormente, Lugia. Aliás, as cenas de batalha são muito bem compostas para demonstrar o poder de devastação que eles possuem, especialmente as do Lugia, o chamado Titã dos Mares.
Em conjunto a isso, temos cenas muito bem animadas de travessias de barco em meio a tempestades e eventos "fora da casinha" como, por exemplo, um barco à vela subir uma montanha ou uma travessia no oceano congelado com um bote salva-vidas e o motor de um helicóptero. O que um cenário de desastre natural não proporciona ao roteirista?
Ao iniciar o filme, você é levado a acreditar que o título "O Poder de Um" se refere ao Ash, aqui referenciado como "O escolhido" para trazer o equilíbrio à natureza. Entretanto, conforme o filme avança, especialmente em sua segunda metade, você percebe que o título, além do papel do Ash, se refere ao poder que cada um adiciona a essa esforço em comum.
Isso porque, ainda que de maneira pontual e pequena, Misty, Tracy, Melody (personagem exclusiva deste filme) e, especialmente, Jessie, James e Meowth contribuíram pontualmente e à sua maneira para o Ash cumprir o papel dele. Esse é facilmente um dos pontos mais fortes do filme em relação ao anterior. Pessoalmente, é uma recompensa à parte, especialmente vinda da Equipe Rocket. Eles nunca foram maus. Só estão, por coincidência, juntos em uma organização maligna. Tem diferença. E o filme evidencia isso.
Um ponto que rapidamente me cansou e julguei desnecessário foi como o roteiro insistia em usar a Melody para provocar a Misty sobre ela e o Ash serem ou não um casal. Primeiro porque parecia que o filme só fez isso com o intuito de criar um conflito feminino pelo conflito em si, já que a resolução não afeta em quase nada a dinâmica do grupo.
Segundo que, da mesma maneira que a Misty nega serem um casal, o roteiro mostra a treinadora com um comportamento enciumado e ignorante quanto à presença da Melody no grupo. Quando se leva em consideração que o roteirista do filme é o mesmo roteirista do anime (Takeshi Shudo) e se pressupõe que você assistiu o anime para assistir o filme, você, em teoria, já deve conhecer os protagonistas e suas dinâmicas. E por mais que faça literalmente anos que não tenha assistido a primeira saga do anime, eu acredito conhecer a Misty o suficiente para afirmar que esse comportamento dela na primeira metade do filme foi deveras anômalo.
Por fim, houve uma pequena participação da Délia no final do filme. As aparições da mãe do Ash são poucas e breves ao longo do anime principal, mas ver o quanto ela intensamente se importa com o filho, especialmente nesse início de jornada, é algo, de certa forma, reconfortante, de aquecer o coração.
(Misty) Senhora Ketchum, o Ash ajudou a salvar o mundo.(Délia) Ah, é mesmo, é? E eu podia ter perdido o meu mundo...Todo dia eu me preocupo com você, pensando se você está bem.Eu sei que não posso impedi-lo de fazer o que você tem que fazer, eu só não posso evitar sentir sua falta. Você é um treinador Pokémon, então é assim... Mas, da próxima [vez], dá pra tentar salvar o mundo mais perto de casa?(Ash) ...Acho que eu posso tentar.(Délia) E lembre-se, todo dia, você é meu herói.(Ash) Valeu mãe :)
Conclusões
Dessa primeira dupla, O Poder de Um é, certamente, o mais fraco. Não quer dizer que é ruim. É um bom filme, mas Mewtwo Contra Ataca consegue se sair melhor para mim. Histórias mais focadas no conflitos pessoais de seus protagonistas e que, ao mesmo tempo, conseguem trazer um senso de urgência, uma ameaça que se apresenta de modo sutil. Esse é o tipo de história que eu mais gosto de ver em relação aos longa metragens de Pokémon. É o que eu espero ver mais daqui pra frente.
2 concluídos. Faltam 22.