Cinema

Crítica: O Deus do Cinema - o Diabo está nos detalhes

Uma homenagem ao fazer fílmico, O Deus do Cinema é o filme que Os Fabelmans sonhou em ser. Confira minha crítica!

Goh (Masaki Suda), protagonista de O Deus Do Cinema (Foto: Reprodução/The Japan Times)

O cinema, assim como aquele que o critica por profissão, é narcisista. Quer dizer, enquanto o crítico acha que todos os filmes foram feitos para ele, o cinema adora falar sobre si mesmo. Nesse sentido, ao começar a ver O Deus do Cinema eu fui preparado. Mais um filme sobre fazer filmes, pensei com o pé atrás. Será que eu estava certo?


Sinopse
Goh é um apostador apaixonado, mas um pai desocupado, e tanto sua esposa Yoshiko quanto os familiares desistiram dele. No entanto, existe uma coisa pela qual Go sempre se dedicou profundamente: filmes. Ele e Terashin, dono de um cinema especializado em clássicos, são velhos amigos desde os tempos em que trabalhavam num estúdio. Na juventude, Goh e seus colegas passavam cada momento perseguindo seus sonhos, cercados por grandes diretores e estrelas famosas que representavam a era de ouro do cinema japonês. Entretanto, quando Goh e Terashin se apaixonaram pela mesma garota, as rodas do destino entraram em colapso.

Se existe alguém no Japão que entende de fazer cinema, esse alguém é Yôji Yamada. O quase centenário diretor de O Deus do Cinema dedicou sua vida à sétima arte, executando diferentes papéis, desde figurinista a diretor. Por isso mesmo, ao homenagear a sua própria profissão, Yamada o faz sem medo de errar.

Aqui, acompanhamos o presente e passado de Goh, um ex-assistente de direção que, ao fracassar uma vez, aceita-se na condição de fracassado eternamente. Alimentado por seus vícios, bebidas e apostas, ele precisa confrontar a sua história e decidir qual será o ponto final.

Assim como o protagonista Goh, O Deus do Cinema vive embriagado, mas, ao invés de álcool, o filme é movido por uma tentativa quase que desesperada de se fazer necessário. O mais surpreendente é que ele até consegue.

Goh (Kenji Sawada) em sua velhice (Foto: Reprodução/Sato Company)

Um filme sem-vergonha


Em dado momento, os personagens discutem e chegam a um consenso: só os sem-vergonha são capazes de fazer cinema. Se eles estão certos ou não, eu não sei, mas é inegável que o filme per se contribui para essa máxima.
Na verdade, dá para dizer que O Deus do Cinema é bem ardiloso. Por exemplo, se você interpretá-lo como Drama, talvez saia um pouco frustrado, porque é exatamente na sátira que ele encontra seu tom, porém, para aqueles que esperam dar boas risadas, sinto informar que ele também está longe de ser pura Comédia. 
Assim sendo, é provável que, assim como eu, você fique com um sorriso bobo na cara em alguns momentos e um ponto de interrogação em outros.

Para não dizer que não falei de flores


É bem verdade que O Deus do Cinema é uma grande homenagem ao cinema, mas ao contrário da maioria dos filmes com essa pretensão, ele não o glamouriza, mas desnuda-o revelando suas cicatrizes.

Além disso, o longa toca em temas sensíveis e traz debates importantes, como a ascensão do etarismo e a invalidação do idoso. Ao fazer isso, porém, acaba relativizando as ações de Goh, especialmente na sua velhice, interpretado por Kenji Sawada.
Falando nisso, seu elenco faz um bom trabalho, mas nunca é o suficiente para efetivamente nos importarmos com os personagens. Aliás, dificilmente poderia ser diferente, até porque o filme não é essencialmente sobre eles.

No final,  O Deus do Cinema se mostra impiedoso, e consegue fazer o que ele mesmo diz ser o objetivo da sétima arte: sentir. Por isso mesmo, fui imediatamente remetido a outra obra recente com os mesmos escopos e propósitos, Os Fabelmans. Nessa rápida reflexão, percebi o quão subestimado o cinema asiático é.

Resumindo…


A obra de Yamada é como uma boa piada. Ela prepara bem o terreno, mas puxa o tapete no final, levando-nos a lugares inesperados.

Ficha técnica

Título: O Deus do Cinema
Título original: Kinema no Kamisama
PaísJapão
Data de estreia16 de julho de 2023
GêneroDrama
Duração: 125 minutos
Classificação+14
Distribuidora: Sato Company
Direção: Yôji Yamada
Elenco: Kenji Sawada, Masaki Suda, Mei Nagano, Nobuko Miyamoto e Keiko Kitagawa

é jornalista, cinéfilo e hater declarado do Christopher Nolan. Ele está sempre por dentro dos bastidores da indústria e detesta Friends secretamente. Inclusive, seu maior medo é de ser sequestrado por fãs da série e ser forçado a vê-la.


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