Cinema

Crítica: Herói de Sangue - bonito, mas ordinário

Um dos grandes destaques do Festival de Cannes de 2022, Herói de Sangue nos apresenta a uma história comovente, mas narrativamente vazia

trecho do filme herói de sangue
Cena do filme Herói de Sangue (Foto: Divulgação/Synapse)

Sabe aquelas histórias que parecem destinadas a se tornarem filmes? Pois então, os eventos por trás de Herói de Sangue definitivamente se encaixam nessa categoria, até porque não é todo dia que um pai se alista no exército para proteger seu filho. Agora, depois de ler a premissa, você deve estar pensando que estamos falando de um filme emocionante e repleto de reviravoltas, não é? Não se engane!


Sinopse
Baseado no passado que a França gostaria de esquecer, um pai senegalês (Omar Sy) fará de tudo para salvar seu filho (Alassane Diong)  de 17 anos recrutado à força para lutar pelos franceses na Primeira Guerra Mundial.

Quem é o inimigo?

Vendido como o filme francês de maior bilheteria do ano, Herói de Sangue tem tudo para ser grande: um elenco estrelado, o ótimo material-base… Está tudo ali! Quer dizer, a obra dirigida por Mathieu Vadepied até começa muito bem, mas falha ao fazer o básico.

Em uma história tão dramática, o mínimo que esperamos é sentir alguma coisa, mas isso não acontece. A relação entre pai e filho, que deveria ser o coração do filme, não convence. Omar Sy e Alassane Diong, que interpretam respectivamente Bakary e Thierno Diallo, pai e filho, até fazem um bom trabalho individualmente, mas, quando estão juntos em tela, não possuem química alguma!

trecho de herói de sangue
Cena do filme Herói de Sangue (Foto: Divulgação/Synapse)

O filme é ao mesmo tempo apressado e arrastado, não dando importância para os momentos mais marcantes e se perdendo em subtramas que não chegam a lugar nenhum.

Herói de Sangue até tenta levantar questões interessantes, como mostrar uma realidade cruel e questionar: “quem é o inimigo?”. Mas, para nós, o inimigo é o próprio diretor, Mathieu Vadepied, que parece tão desesperado e confuso quanto os personagens. Esse desespero culmina em um terceiro ato que, ao transformar o horror em poesia, beira o absurdo.

O mais triste é pensar em como a verdadeira história foi desrespeitada e transformada em espetáculo. O colonialismo sangrento e o racismo histórico da França não têm peso ao serem contados por um homem branco francês, que claramente ocupa uma posição de apatia em sua direção. Diferente da maioria dos filmes do gênero, a visão de Vadepied sobre a guerra é contida, quase banalizando-a. 

Mas afinal, será que o filme é tão ruim a ponto de nada se salvar? Felizmente, não.

Os verdadeiros heróis

Uma das únicas poucas surpresas de Herói de Sangue é sua trilha sonora, composta habilmente pelo oscarizado Alexandre Desplat. A pouca tensão dramática que existe é justamente trazida pelo compositor, que contrasta muito bem o calor do Senegal à frieza da França.

Tirailleurs
Cena do filme Herói de Sangue (Foto: Divulgação/Synapse)

No mesmo sentido, outro destaque positivo é a cinematografia, especialmente quando falamos do primeiro ato. Digna de um documentário da National Geographic, a fotografia e os planos abertos das paisagens senegalesas se opõem à câmera na mão e aos planos fechados nas trincheiras europeias, oscilando entre o panorâmico e o claustrofóbico.

Em suma, Herói de Sangue é um filme contraditório, tecnicamente rico e narrativamente pobre.

Ficha técnica

Título: Herói de Sangue
Título original: Tirailleurs
País: França/Senegal
Data de estreia: 13 de julho de 2023
Gênero: Drama, Guerra
Duração: 98 minutos
Classificação: +14
Distribuidora: Synapse
Direção: Mathieu Vadepied
Elenco:Omar Sy, Jonas Bloquet e Alassane Sy


é jornalista, cinéfilo e hater declarado do Christopher Nolan. Ele está sempre por dentro dos bastidores da indústria e detesta Friends secretamente. Inclusive, seu maior medo é de ser sequestrado por fãs da série e ser forçado a vê-la.


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