Inteligências artificiais. As famigeradas IAs. Elas já estão entre nós, em suas mais diversas maneiras, desde o ChatGPT até o Michael Jackson cantando Dua Lipa. Elas também já estão presentes em Hollywood, vide a versão mais jovem do Luke Skywalker em The Mandalorian e O Livro de Boba Fett. É impressionante, é assustador até, e ainda tem muito espaço para crescer futuramente.
É comum pensar sobre como alguns empregos poderão ser totalmente tomados pelas IAs. O meio artístico não será diferente, e a mudança poderá vir mais cedo do que muitos imaginam.
Conheçam Emily Bauer Jenness. Emily é uma dubladora nos Estados Unidos cujos principais trabalhos envolveram a franquia Pokémon, onde ela deu sua voz para Dawn, companheira de viagem de Ash em Diamante e Pérola e em outras participações especiais, e a franquia Yu-Gi-Oh!, onde ela dublou várias personagens na temporada V-RAINS, sendo mais conhecida como a voz de Celina.
Na noite de sexta-feira (09), Emily postou em seu Instagram que ela foi convidada a dublar novamente uma de suas personagens, mas teve que recusar devido a uma cláusula no contrato que cedia à empresa os direitos de utilizar sua voz para usar em "tecnologias de inteligência artificial". Isso significa que, certamente, a empresa queria usar este novo trabalho que Emily faria como base para treinar um modelo de inteligência artificial com o objetivo futuro de utilizar a personagem e sua voz sem precisar pedir autorização à Emily ou compensá-la de alguma forma.
Segue abaixo a legenda da referida postagem, em tradução adaptada:
ATORES DE VOZ E FÃS DE ANIMETem sido um caminho muito difícil para a indústria de locução e para os dubladores na luta por nossos direitos contra a tecnologia de IA.Recentemente me pediram para dar voz a um personagem que já havia dublado originalmente, mas tive que recusar. Por que? A empresa quer manter o direito de usar minha voz para tecnologia de IA. Isso significa que eles podem escolher usar minha voz a qualquer momento para qualquer coisa. Eles podem clonar minha voz, usá-la para jogos, comerciais, programas de TV ou filmes, treinamento de IA... você escolhe, sem permissão e sem compensação. Efetivamente me tirando do emprego.Se soubéssemos há 10 anos o que sabemos agora, os atores teriam feito escolhas muito diferentes sobre quais direitos eles renunciam. Bem, aqui estamos, e estou tomando uma posição.Eu esperava que, em vez de me substituir, essa grande empresa colocasse uma cláusula em seus contratos proibindo o uso de IA e protegendo os atores. Isso não aconteceu. Espero que possamos trabalhar juntos novamente algum dia, respeitando o talento dos dubladores e a arte da dublagem.Muito amor para meus fãs. Muito obrigado aos produtores que nos dão contratos justos. E um grande obrigado aos meus colegas atores que recusaram audições e contratos injustos.
Embora, em nenhum momento, ela diga qual foi a empresa que ofereceu tal contrato e qual personagem ela iria reprisar o papel, a imagem utilizada na postagem foi a de Celina, sua personagem de Yu-Gi-Oh!. A partir disso, algumas pessoas já começaram a especular que a empresa por trás do contrato é a KONAMI, dona da franquia, que este trabalho de dublagem que Emily recusou seria para o jogo de smartphone Yu-Gi-Oh! Duel Links e que, provavelmente, uma nova dubladora será escalada no lugar de Emily para o papel de Celina.
Novamente, tudo isso é pura especulação. Nada foi confirmado ainda.
Não é novidade que dubladores e outros profissionais já declararam anteriormente sua insatisfação com o uso das IAs no meio. Certamente, esta não foi a primeira vez em que uma empresa insere uma cláusula dessa natureza no contrato de dublagem, nem será a última vez, mas talvez esta tenha sido uma das primeiras vezes que o público tenha obtido conhecimento a respeito disso, já que, assim como em outras indústrias, os termos de confidencialidade impedem que maiores informações sejam divulgadas.
Nos resta aguardar e observar o que vem por aí.