Cinema

Crítica: Mighty Morphin' Power Rangers - Agora e Sempre

Tanto positiva, como negativamente, é como assistir um episódio da série clássica com esteroides.


Em 1993, 5 adolescentes foram escolhidos por Zordon, um alienígena natural do planeta Eltar, para portar as Moedas do Poder e utilizar uma combinação de dinossauros e tecnologia para defender a Terra das investidas da feiticeira Rita Repulsa contra o planeta após ter sido liberta de sua prisão após 10 mil anos. Em 2023, em meio a uma tragédia que afeta toda a equipe, uma misteriosa versão robótica da vilã com sede de vingança e um desejo de eliminar os Rangers de uma vez por todas. É chegada a hora da primeira equipe de heróis coloridos usando spandex protagonizar uma nova história.

Mudanças inesperadas

Os minutos iniciais do especial deixam bem claro que seu enredo está fortemente centrado em como a morte da Trini (Thuy Thang) afetou toda a equipe, mas impactou especialmente Billy (David Yost), Zack (Walter Jones) e Mihn (Charlie Hersk), a filha da antiga Ranger Amarela, de maneiras diferentes.

Billy constantemente se culpa pelo ocorrido e, além de receber um tratamento de certa forma cruel por parte da Mihn, o fato dele, aparentemente, partilhar alguma ligação com essa versão robótica da Rita, joga uma nova luz na aparente apatia e seriedade do personagem. Não sei se foi uma escolha da direção ou da própria capacidade de atuação do David Yost, mas senti que ele estava bastante travado, sem muita expressividade, como em um estado de apatia que acabou me incomodando certas vezes. Ao menos a dublagem consegue adicionar algumas nuances na voz.

Não vou negar, me alegra muito vê-los em tela novamente depois de tantos anos.

Zack assumiu para si a responsabilidade de cuidar e proteger Mihn depois do ocorrido e constantemente reforça esse papel de mentor da menina, tanto no lado pessoal, como no lado profissional em que ela foi inserida. É bem fácil de perceber que seu intérprete está bem confortável com o personagem, está legitimamente feliz em participar do especial e ele possui um carisma natural, já que, com 52 anos, ele ainda consegue lutar como se tivesse 20, com break dance e tudo.

Quanto à Mihn, acredito que os roteiristas decidiram jogar no seguro e utilizaram alguns clichês a respeito do caminho da vingança, do verdadeiro significado de ser uma Ranger além do "direito ao poder por herança". Caso a personagem não seja mais utilizada futuramente, será um pena, já que tanto ela, como sua intérprete, embora cometa alguns exageros na interpretação, possui espaço para melhoria e maior aprofundamento. Como primeira aparição, acredito que o resultado foi aceitável.

Presença por contingência

Kat (Catherine Sutherland) e Rocky (Steve Cardenas) acabam sendo tratados de maneira mais secundária, ficando com a sensação de que eles só estavam lá para compor o time, o que é uma pena porque sinto que eles tinham potencial a ser explorados, especialmente o Ranger Vermelho, que acredito que nunca foi devidamente explorado nas temporadas que protagonizou (pelo menos os quadrinhos da Boom! Studios estão compensando isso). 

E a Ranger Rosa só não fica muito para trás porque Dimensões em Perigo, o episódio comemorativo de 25 anos, e os quadrinhos haviam estabelecido anteriormente seu relacionamento com Tommy e o filho do casal, J.J. Oliver, mas ainda há ressalvas quanto a isso porque isso não é deixado de maneira explícita nesse especial e pode passar batido.


Esse é um dos exemplos de elementos que Becca Barnes e Alwyn Dale, a dupla de roteiristas de Agora e Sempre, tentaram inserir no especial como referências quando, na verdade, deveriam ter sido melhor explicados ou explorados por estarem diretamente ligados, não só à história do especial em si, mas também à história dos protagonistas em questão. Eles até utilizam o artifício dos diálogos expositivos e da própria Mihn como "avatar" do espectador tentando entender esse novo mundo, mas não foi o suficiente.

Aceno para o futuro

Por último, Aisha (Karan Ashley) e Adam (Johny Young Bosch). A participação da dupla acabou sendo substancial não pelos personagens em si, mas pelo papel que eles acabam exercendo de "vitrine" do futuro da franquia justamente pelo uniforme que ambos estão trajando, que possui um pingente com as letras SPA. 

Em algum lugar na imensidão do espaço...

Ainda que seu significado seja desconhecido por enquanto, a sigla pode estar alguma ligação com a SPD, organização que atua como uma polícia intergaláctica ao redor do universo e também dá nome à temporada de 2005, cujos eventos se passam no ano de 2025. Outra possibilidade de ligação é com Ranger Academy, a nova série de histórias em quadrinhos dos heróis coloridos que começará a ser publicada em Maio deste ano.

De toda forma, ao retirar isso, a presença de ambos se torna insignificante, o que é uma pena. Fica aqui minha esperança de que, num futuro próximo, ambos os personagens retornem em futuras produções e sejam mais explorados, não apenas suas atuais posições como comandantes, mas também seus passados deles.

Explosões, câmeras lentas e afins

Meu ponto fraco: corridas em câmera lenta com explosões ao fundo.

Indo para os aspectos mais técnicos, é bem notável que a produção foi por um caminho que, ao mesmo tempo que emula e homenageia a estética dos episódios dos anos 90, como a recriação da sequência de morfagem original, a utilização de explosivos de verdade e uma coreografia simples, mas bem executada, para as lutas, a moderniza através do uso, tanto de ângulos mais aéreos em locais mais abertos, como da câmera lenta em takes mais fechados.

Quanto aos Zords, considerando que, desde que a franquia foi adquirida pela Hasbro em 2019, essa foi uma das primeiras vezes em que o CGI foi utilizado para criar as batalhas de robôs gigantes ao invés de usar uma filmagem da contraparte japonesa para isso, diria que o resultado foi, no máximo, OK. É um detalhe que ainda precisa de muito aperfeiçoamento no futuro. 

Caso você esteja com dúvida, o robô gigante feito
em computação gráfica é o de cima, certo? (Imagem: IGN)

Destaco aqui que a movimentação do Megazord pode causar certo estranhamento inicial por parecer muito mais "travado" do que em outras produções, mas acredito que isso foi proposital da direção em fazê-lo comportar-se mais como um ser mecanizado gigante do que uma pessoa fantasiada de robô gigante.

No Brasil, ainda tiveram a preocupação adicional de trazer de volta praticamente todos os dubladores originais dos personagens em tela. A única exceção foi Maria da Penha, dubladora original da Rita, que, por motivos de saúde, não pode reprisar o papel e, aqui, foi substituída por Rebeca Zabra (voz da Luz em The Owl House), que faz um trabalho muito competente e entrega uma voz tão idêntica à original que é quase impossível de distinguir. Morfenomenal.

Novas fronteiras

Apostando na simplicidade, Mighty Morphin' Power Rangers - Agora e Sempre entrega o suficiente para entreter, mesmo seguindo um caminho previsível e não se preocupando em explicar todos os elementos narrativos que introduziu ou explorar os demais personagens além do trio principal. Se esta é uma pequena demonstração dos vários caminhos que a Hasbro e a Netflix pretendem seguir futuramente com a marca, então eu ficarei cautelosamente otimista a respeito do que vem por aí. É esperar para ver o resultado disso.

De todo jeito, foi um verdadeiro prazer vê-los em ação novamente.
Espero que mais especiais como esse sejam produzidos futuramente. 

P.S.: Mais tarde nesse ano, ainda teremos Power Rangers Cosmic Fury, a 30ª temporada da série. Curiosamente, ela parece se aproximar ainda mais do modelo das Originais Netflix (serão 10 episódios de aproximadamente 40 minutos) e pode mostrar ainda mais a visão que a Hasbro deseja adotar com as produções live-action agora que eles não dependem mais das séries Super Sentai como base e decidiram produzir material 100% original de agora em diante

P.P.S.: Fique até os créditos.

Escreve para o GeekBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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