Gregory House e Lisa Cuddy. Desde o primeiro episódio da série, já era óbvio que esses dois personagens, em algum momento, iriam se envolver romanticamente. A única questão era quando isso iria acontecer e por quanto tempo essa relação iria durar. A resposta para ambas as perguntas veio naquela que é considerada como a mais fraca temporada da série. E o que era para ser um texto sobre como o penúltimo ano do drama médico realmente foi fraco virou um texto para refletir um pouco sobre como House e Cuddy não deram certo como casal e como isso foi a principal causa para eu terminar o 7º ano com uma sensação generalizada de apatia.
Um começo promissor
A pior parte de escrever sobre como Huddy deu errado é voltar para a primeira metade da temporada e ver como o relacionamento entre eles tinha uma chance genuína de dar certo e que ambos, mesmo com um receio justificável e mútuo de que, talvez, aquilo não iria durar muito e que aquilo só iria trazer dor para eles, estavam dispostos a tentar, cada um à sua própria maneira e ritmo.
Cuddy aparentava estar contente com o House, não só porque já sabia como lidar com sua personalidade excêntrica e sua moralidade duvidosa, mas também porque ela afirmava que era exatamente isso que a atraía nele, além de conseguir ter encontrado uma forma de limite entre as dinâmicas profissional e pessoal entre eles e, em ocasiões mais extremas, esse limite simplesmente deixava de existir, como se Lisa desse carta branca para as ações do House, indo completamente contra os princípios e responsabilidades como administradora do hospital.
Com isso, era uma questão de tempo até que ambos estivessem na mesma página e estivessem prontos para deixar o receio de lado e terem real esperança de darem certo. Mas tempo não era algo que os roteiristas pareciam ter aos montes. Muito menos um plano a longo prazo de mantê-los juntos. Como, aparentemente, não conseguiram construir um motivo plausível para o término, em dois episódios, exageraram ainda mais a personalidade do House ao ponto de que fosse justificável para Lisa utilizar a própria natureza do Greg como motivo para eles terminarem.
Uns podem argumentar que a culpada é a Cuddy por ter dado falsas esperanças ao House de que eles dariam certo. Outros podem dizer que ele fez o que fez foi devido à sua própria natureza, pois, conforme visto em outras temporadas, ele tem esse tendência a se auto sabotar para perder algo/alguém que realmente o fazia feliz/o distraísse da dor da perna porque ele associou essa sua dor com sua genialidade e, por consequência, ele pensa que, ao ser feliz, ele será um péssimo médico.
O que realmente importa, nesse caso, é que, por algum motivo, os roteiristas quebraram a sintonia que existia entre ambos os personagens e, de certa forma, "estragaram" qualquer dinâmica que podia existir entre dois para que o término, e os eventos subsequentes, ocorressem. E a impressão que fica é a de que Huddy (o nome do ship) se sustenta mais pela performance de seus intérpretes do que pelo relacionamento propriamente dito.
6 anos de antecipação para 15 episódios de um relacionamento que começou meio torto, estava começando a se endireitar e acabou por motivos quaisquer. Pelo menos essa situação toda rendeu uma das cenas mais icônicas, não só da temporada, mas certamente da série inteira:
O incidente
Ainda sobre o ex-casal, eu tinha que separar um espaço para falar somente do último episódio da temporada. Ao longos dos mais de 150 episódios anteriormente exibidos, várias foram as demonstrações do comportamento autodestrutivo do personagem, várias delas que quase resultaram em morte, mas ele nunca colocou outra pessoa além dele mesmo em perigo. Mas aí ele pegou seu carro e entrou com tudo na sala de jantar da Cuddy.
Ele colocou 5 vidas em perigo por não saber lidar com o fato de que a Lisa estava começando a seguir em frente. Ele quase matou a Lisa, a mulher que ele tanto diz amar. A pessoa que, literalmente um episódio antes, havia salvado ele da morte.
Além disso, a montagem do episódio, ao inserir pequenos flash-forwards da chegada da polícia e paramédicos ao local após o incidente com uma fotografia mais escura e uma movimentação mais dramática da câmera, usando bastante de enquadramentos fechados no rosto do personagens, transmite ao espectador uma sensação de que algo muito grave havia acontecido, algo bem mais grave do que o que realmente aconteceu. Parecia até Grey's Anatomy. No bom e no mal sentido.
Para engrossar ainda mais o caldo, esse final de temporada foi a última participação de Lisa Edelstein na série. De acordo com seu perfil no IMDb, nem pro series finale ela retornou. Fica a questão de como o roteiro irá lidar com sua ausência no próximo ano.
O futuro não tão distante
Enquanto escrevia esse texto, encontrei essa coluna de 2014 do portal estadunidense Entertainment Weekly sobre Huddy e o autor, não só faz essa mesma comparação com a série médica do canal ABC, mas a expande para a temporada inteira:
"Uma vez que House e Cuddy ficaram juntos, a série foi de "Sherlock resolvendo mistérios médicos" para "Sherlock's Anatomy". Tudo que havia de interessante na série - a atuação de [Hugh] Laurie, a amizade entre House e Wilson, os casos médicos - se tornou secundário em relação aos dramas de relacionamento que House e Cuddy estavam lidando."Chancellor Agard, EW
Eu não poderia concordar ainda mais com o que foi dito acima.
Muitos episódios medianos, poucos casos médicos interessantes, mudanças no elenco principal e secundário que não agradaram à audiência (sim, tô falando da saída da Thirteen, Cuddy e Masters, que nem chegou a terminar sua temporada de estreia), renegaram o Wilson a um romance com sua ex-mulher, fizeram o House desprezar ainda mais sua amizade com o Wilson...
Eu poderia ficar listar ainda mais defeitos dessa 7ª temporada, mas você, provavelmente, já entendeu o ponto: o momento que eles decidiram escrever House e Cuddy de maneira desprezível, a temporada inteira se tornou desprezível. E ainda tem mais uma pela frente...