Em 2020, eu escrevi este texto aqui com minhas primeiras impressões a respeito dos primeiros episódios de Jornadas, a atual saga do anime de Pokémon, com a esperança de que, no futuro, a história conseguiria se autossustentar sem depender de tantas referências e retornos. Seis meses atrás, com esse texto aqui, eu dei minha segunda opinião sobre a saga e comecei a pontuar alguns dos meus principais incômodos com o roteiro. E, agora, eu tenho muita coisa pra falar tanto sobre o Torneio do Mestres, como os episódios que vieram antes e depois dele. Comecemos pelo último.
Entre treinos e missões
Os 10 episódios exibidos entre a participação da Serena em Jornadas (o episódio mais recente na época em que redigi minha segunda crítica em Maio) e o início do Torneio dos Mestres em meados de Junho compuseram uma sequência de capítulos consistente e mais direcionada ao Ash sem deixar de dar espaço ao outros personagens. Até os episódios filler/semi-filler dessa leva foram mais agradáveis que os anteriores.
Primeiro que Yamper quase não teve mais tempo de tela depois que a Chloe ganhou sua Eevee, então eu aceito de coração aberto um episódio dele sendo um fofo correndo ao redor do Parque Cerejeira resolvendo os empecilhos dos Pokémon do Goh e sendo "reconhecido" pelo Suicune pelo trabalho que ele exerce enquanto o trio está em viagem.
Segundo, não só o trio Rocket ganhou um episódio de aniversário para chamar de seu, como agora eles têm um podcast. A que ponto a humanidade chegou? Se era para eles conseguirem novos membros para a organização, o fracasso era certo, então eles transformaram em algo próprio deles. Foi uma maneira interessante de mantê-los por perto e fazer referências a personalidade e história individual de cada um (ainda morro com James e sua coleção de tampinhas). Eles ainda querem o Pikachu e isso nunca vai mudar, mas uma mudança de ares é sempre bem-vinda.
E, de quebra, os fãs de Alola tiveram uma grata surpresa com o desfecho do arco narrativo do pai da Lillie e do Gladion, plot esse que havia sido deixado em aberto no último episódio de Sol e Lua em 2019. Dado o histórico anterior de como o anime lida com continuidades, era de se esperar que isso nunca ia ser mencionado novamente. Só o aniversário de 25 anos para algo desse tipo acontecer.
Enfim, a família está completa. Demorou, mas deu certo. |
Em preparo
Além da batalha contra o Raihan, que garantiu seu acesso ao Top 8, Ash teve mais três episódios centrais que, embora tenha contado com a participação/retorno de personagens e Pokémon favoritos dos fãs, e, certamente, ajudou na preparação do time do menino de Pallet para a competição, só reforçou que as chances do Ash usar algum de seus reservas para as futuras batalhas seriam mínimas, senão inexistentes.
Depois de 6 anos, o retorno do Greninja, embora mostre que o forte vínculo entre treinador e Pokémon ainda está lá, como se nunca tivesse passado um dia desde a despedida no final de XYZ, ainda tem como foco o Lucario e melhorar a sincronia entre o Pokémon Aura e o menino de Pallet. E, sim, infelizmente, não foi dessa vez que o ás do time de Kalos retornou para seu treinador. Honestamente, depois dessa, acho que ele nunca mais volta. E, além disso, por algum motivo, os animadores não desenharam o Ash-Greninja propriamente dito nas cenas que o fenômeno está ocorrendo. Nem nos flashbacks de XYZ, onde o icônico design parecido com o Ash deveria estar, ele não está. No mínimo, estranho.
Está comprovado: o Lei é irmão do Ash mesmo. |
Indo para regiões mais tropicais, querendo ou não, Alola se tornou uma região importante demais para o eterno treinador de Kanto. Foi lá que ele firmou sua segunda casa e ganhou uma segunda família, com direito a uma figura paterna presente e um irmão mais novo por consideração. Por mais que as visitas a Alola tenham sido poucas, elas sempre foram algumas das mais importantes para o personagem, mas essa última foi especial. Afinal, não é todo dia que você ouve um estádio inteiro chamar, em alto e bom tom, o menino Ketchum de Campeão e, de quebra, ver Tapu Koko, um dos lendários guardiões da região, fazer uma saudação especial para ele, como se fosse uma benção. Foi nesse momento que minhas esperanças pela vitória dele aumentaram.
Mas, antes de ir para Galar, uma última visita ao Laboratório do Professor Carvalho para mais um treinamento e algumas gratas surpresas: não só tivemos mais cenas do time atual do Ash interagindo com os antigos Pokémon do treinador, especialmente o Gengar com os Tipo Fogo como Infernape e Charizard, como, depois de 12 anos, Paul, o icônico rival do Ash durante a saga Sinnoh, retornou para uma visita e uma rápida batalha 3 vs 3 para relembrar o clássico bordão dele e como ele ainda é uma força da natureza a ser levado a sério. Com um Líder de Ginásio desses, dá até pena dos desafiantes.
Ele nunca deixou de ser frio, calculista, sarcástico e provocador. Só não é mais exagerado. E ele finalmente se importa com pessoas e Pokémon como uma pessoa decente. |
Rumo ao Mew...
Goh teve apenas 4 episódios centrais, sendo um de recapitulação. Os dois primeiros foram exibidos em Maio e Junho e corresponderam às duas últimas missões que os candidatos tinham para avançar no ranking, chegar no Top 3 e se juntar, oficialmente, ao Projeto Mew. Ambas serviram como teste para as habilidades do personagem, não só em batalha, mas também como companheiro de equipe, algo que já o havia posto em desvantagem perante os demais candidatos em missões anteriores, mas seu desempenho satisfatório foi suficiente para se tornar membro da iniciativa.
O terceiro e, até então, último episódio central do personagem, além de ser um callback para quando Goh conheceu aquele que viria a ser seu principal parceiro, na época, um Scorbunny que causava confusões pelas ruas de Galar, o episódio foi uma despedida provisória do personagem.
Cronologicamente, uma missão de emergência do Projeto ocorrerá em paralelo à partida de Ash contra Leon. Devido a isso, Goh esteve ausente da final e teve de torcer pelo amigo de longe, assim como tantos outros antigos companheiros do Ash espalhados mundo afora. Dado o público-alvo do anime (crianças na faixa de 10 anos de idade), acredito que os roteiristas se aproveitaram da ausência para passar uma lição sobre relacionamentos humanos, sobre apoiar as pessoas que mais apreciamos e prezamos em seus sonhos, mesmo que à distância. A intenção foi boa, mas a ausência dele, de certa forma, é, no mínimo, incomum.
...rumo ao fim?
Até o momento, foram confirmados mais 3 episódios a partir para serem exibidos a partir do dia 25 de novembro. Nem todas as sinopses foram reveladas ainda, mas, pelos títulos (tradução livre: Projeto Mew - Agarre o Futuro - Pokémon! Foi um prazer ter te conhecido!!) e a sinopse revelada do primeiro capítulo, pode-se presumir que a conclusão do arco do Goh em Jornadas está próxima e não será nenhum mar de rosas.
Quanto ao nome do terceiro episódio, muito se especula o que ele representa, tanto para a Jornadas, como para o futuro do anime, devido à referência do título ao primeiro episódio da primeira temporada (Pokémon - Eu Escolho Você!). Um hiato maior entre sagas? Fim de Jornadas? Troca de protagonista? Trocar o estúdio de animação? Finalizar o anime? 3º episódio do Projeto Mew? Não se sabe nada ainda, mas o vídeo abaixo feito pelo Camaleão pode esclarecer alguma coisa sobre o assunto em meio a esta escassez de confirmações:
Pessoalmente, acredito que o anime não vai acabar. A venda de mercadorias relacionadas aos jogos é a principal fonte de renda da franquia e o anime, certamente, é um dos principais materiais promocionais para manter a marca em relevância entre os lançamentos dos jogos principais, suas expansões e seus spin-offs. Também não acredito que irão trocar de protagonista. Mesmo após 25 anos, nosso eterno menino Satoshi/Ash ainda é popular entre os japoneses, embora não consiga pensar em como o roteiro conseguiria explorá-lo de forma interessante depois de seu feito no último dia 11. De qualquer forma, eu prefiro aguardar por uma confirmação da produção sobre o assunto e, por ora, aproveitar o resultado mais que positivo que o Torneio dos Mestres trouxe ao jovem treinador.