Séries & TV

Crítica: Grey's Anatomy - 18ª Temporada

Situada um pouco à frente no futuro, com a pandemia de COVID já melhor controlada, é hora do Grey-Sloan enfrentar desafios ainda mais complicados.


Depois de passarem pela maior crise sanitária e humanitária do século XXI, parece que a normalidade, enfim, voltou ao Grey-Sloan Memorial Hospital… somente para jogar uma luz em novos problemas relacionados à formação profissional dos residentes e à perda de importantes membros da equipe do hospital ao longo dos últimos anos. Enquanto isso, Meredith Grey, após receber uma oferta para liderar uma importante pesquisa em outro estado, começa a considerar a ideia de deixar a cidade e o hospital onde cresceu e se tornou a cirurgiã renomada que é hoje. Bem-vindos à 18ª temporada de Grey’s Anatomy.

Uma velha amiga

Talvez o evento mais esperado da temporada foi o retorno de Kate Walsh à produção. Addison Montgomery foi uma personagem crucial no já complicado relacionamento entre Meredith e Derek nos primeiros anos da série e o talento de sua intérprete conquistou os fãs e a equipe de produção, que não só lhe deram uma participação estendida na trama principal, como, posteriormente, um spin-off para chamar de seu: Private Practice, que durou 6 temporadas e introduziu Amelia Shepherd, outra personagem querida dos fãs.

Embora sua participação tenha sido de apenas 3 episódios, o que alguns podem considerar pouco já que a obstetra esteve ausente de Seattle por quase 10 anos, considero que essa quantidade foi suficiente para matar a saudade e que o roteiro estava fiel ao legado da personagem, que continua com a mesma presença, sagacidade, personalidade provocadora, que joga as verdades na cara da pessoa sem piedade que tanto conquistou os fãs nos anos 2000. Kate Walsh demonstrou uma aparente facilidade de incorporar novamente Addison e sua sincronia com a personagem está perfeita. É como se ela nunca tivesse saído.

As histórias que essas duas passaram juntas daria uma baita série. Não, pera...

Medidas drásticas

Para compensar o tempo perdido na pandemia e acelerar o aprendizado dos residentes, Richard ousou e tentou reinventar a roda com o Método Webber: em cirurgias de rotina, os residentes realizariam os procedimentos e os atendentes, após estimarem o tempo médio de duração da cirurgia, fariam rondas cronometradas pelas salas de operação para que, nos momentos apontados como mais críticos, eles estivessem presentes para avaliar, auxiliar ou intervir no procedimento.

Talvez o maior questionamento sobre o método Webber tenha sido a necessidade de fazer esse sistema de ronda ao invés de manter um atendente observando integralmente a operação, que, além de ser mais fácil, também estabeleceria uma linha de comando mais sólida, que eliminaria outros problemas não levantados pelo roteiro, como possíveis conflitos entre atendentes sobre decisões tomadas pelo residentes. Mesmo com todas essas bandeiras de aviso e a relutância por parte de Maggie e Miranda quanto à natureza do método, ele foi implementado e correu bem… até que tudo começou a dar errado. Muito errado até.

Um detalhe interessante é que o plot do Método Webber se assemelha bastante a um outro que aconteceu com outra personagem na 13ª temporada. Não chamarei os roteiristas de preguiçosos por quererem dar uma nova chance a uma história esquecível de uma temporada que deixou um gosto amargo na boca dos fãs, mas também não chamarei de ousados. Só me contentarei a dizer que cumpriu seu propósito de ser um dos pontos iniciais para a temporada e, por consequência, para o fim de algo maior que a própria iniciativa de ensino. 

Novos horizontes

O que era para ser uma visita a uma clínica de Minnesota se transformou em algo maior e, durante a primeira metade da temporada, Meredith e Amelia tiveram de se dividir entre suas obrigações como Chefe de Cirurgia Geral e Neurologia do Grey-Sloan e como pesquisadoras de um estudo com o objetivo de achar uma cura cirúrgica para o mal de Parkinson. E o paciente zero seria o Dr. David Hamilton, o próprio patrocinador delas. Ainda assim, mesmo com tamanha responsabilidade, ambas tiveram a chance de encontrar o amor.

Uma nova chance ao amor.

O escolhido para a Dra. Grey, dessa vez, foi Nick Marsh. Se perguntar “quem é esse cara?” é uma reação natural, já que ele só participou de um episódio da 14ª temporada, mas isso permitiu que os roteiristas meio que emulassem a 1ª temporada, fazendo com que a audiência, junto com Meredith, descobrisse as nuances desse recém-chegado e, aos poucos, desenvolver um apreço por ele. E deu muito certo. Bem como seus personagens, é notável o entrosamento entre Ellen e Scott se aprofundando gradualmente, o que torna o momento das três palavras ser recompensador e a cena final dos dois ser emocionalmente conflituosa. Roteiristas, pode ir dando seus pulos para dar o final feliz que a Mer merece.

O mesmo vale para Amelia e Kai, do laboratório de pesquisa. Confesso que ver um relacionamento tão estável e bem desenvolvido que foi o de Amelia com Link acabar de forma tão abrupta foi, de certa forma, frustrante (embora não devesse, se tratando de Grey’s Anatomy), o que dificultou um pouco aceitar essa virada de página da neurologista. Mas o tempo ajuda no processo. 

Problemas e consequências

Depois de muito tempo, Owen conseguiu um plot interessante, ao menos para a primeira metade da temporada. Seu envolvimento com veteranos de guerra que desenvolveram problemas pulmonares graves por inalar fumaça tóxica gerada pela queima de resíduos no campo de guerra evoluiu rapidamente para a prática de algo moralmente ambíguo e possivelmente antiético (cabe debate aqui sobre “morte com dignidade”) que pode ter custado, não só sua carreira, mas também a carreira de Teddy. Isso sem falar que o retorno de ambos no próximo ano de produção tornou-se muito incerto após o episódio final.

Winston, Maggie, Jo e Link também tiveram seus problemas de relacionamento (nada que evolvesse a polícia, obviamente), mas que, próximo ao episódio final, foram parcialmente resolvidos, deixando-os em uma situação próxima àquela em que estavam no começo da temporada. Dou o devido destaque aos recém-casados, já a visita do irmão do Winston deu uma abalada no emocional do cirurgião e Maggie teve sua curiosidade por saber quem era Ellis Grey saciada, embora a resposta não tenha sido aquilo que esperava.

Wilson ao ver que eu não falei da relação dela com o Link e, mais tarde, com sua própria carreira.

Os últimos episódios da temporada foram difíceis para todos, especialmente para Meredith, Richard e Miranda. E, como uma forma de “celebrar” o marco histórico de 400 episódios, os roteiristas decidiram criar a tempestade perfeita que pode ter custado o já quebrado relacionamento desses 3 personagens. A descoberta da oferta de emprego que a Dra. Grey recebeu de Minnesota, junto com discussões afloradas, ofensas trocadas, uma imagem pública denegrida, uma grande quantidade de atendentes saindo e/ou desejando sair, denúncias que podem causar a suspensão do programa de residência, a realização de atividades criminosas envolvendo o hospital, uma literal tempestade e um banco de sangue quase vazio, indicavam que o final seria tudo, menos feliz.

Cidade fantasma

No início da 9ª temporada, depois da Yang mudar para Minnesota depois de terminar sua residência em Seattle, Meredith disse por telefone que ela fez a coisa certa. Era uma forma de fugir do desastre, da dor, de tantas mortes, tantas feridas, tanto sofrimento causado a tantas pessoas. E, mesmo assim, Meredith permaneceu. Sua justificativa, na época, era que, desde sua infância, aquela cidade, aquele hospital mais especificamente, lhe provia um "equilíbrio". Equilíbrio entre tudo aquilo que lhe foi tirado e aquilo que lhe foi dado. Era nisso que ela acreditava. Ou queria acreditar. Ou precisava acreditar.

Isso não existe mais. Meredith se tornou prisioneira do hospital onde cresceu e da cidade que aprendeu amar. Muitos chegaram e muitos partiram ao longo desses últimos anos. Alguns de forma trágica, cruel, injusta até, mas todos tinham plena consciência de que queriam fazer mais. Crescer mais. Ser mais. Sorrir mais. E o único meio para tal era sair de Seattle. Mesmo durante a pandemia de COVID-19, isso nunca foi negado a niguém. Mas isso não se aplica à Dra. Grey.

Eis que o passado a condena. Quase que literalmente.

A ela, só há uma opção: permanecer, contra sua vontade, em um lugar que, agora, só lhe traz sofrimento. Tornar-se o bode expiatório de um problema que nunca foi diretamente seu. Ser obrigada a reerguer um hospital praticamente sozinha, já que, ironicamente, Richard e Miranda também saíram do hospital (enfim a hipocrisia). Esquecer Minnesota. Esquecer a chance de ter um novo amor. Esquecer sua própria felicidade.

Eu com certeza estou errado, mas, morbidade, descontentamento e desconforto à parte, os roteiristas parecem está preparando ainda mais o terreno para que a 19ª temporada seja a última, ao menos, do arco narrativo da Doutora Grey. Se isso significar o fim do maior drama médico do horário nobre da TV americana e uma das produções mais lucrativas do canal ABC, esta é uma questão que fica para o próximo ano.


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