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Blast From The Past: Ghost Whisperer - 2ª Temporada

Em seu segundo ano, série procedural consegue estabelecer sua maturidade e evoluir o que parecia ser uma premissa simplória.


Um piloto e uma comissária de bordo de um voo comercial começam a entrar em contato com Melinda. Logo ela descobre que ambos os fantasmas estão contatando-a de um avião que ainda está no ar em que todos os presentes aparentam estar desacordados. Mais tarde naquele dia, o avião caiu nos arredores de Grandview. Melinda, além de ajudar, extraoficialmente, nas investigações do acidente, teve que ajudar as dezenas de falecidos a realizarem a passagem rumo à luz.

Era para ser fácil, mas o espírito das trevas que assombrou Melinda durante a temporada inteira finalmente se revela como um ser que usa de sua lábia para contar promessas vazias e mentiras, tentando convencer o maior número de espíritos a permanecerem na Terra como seus seguidores. Foi preciso algo que só pode ser descrito como uma intervenção divina para que a maioria dos espíritos fossem em direção à luz.

Seria um final de temporada relativamente otimista, se não fosse o duplo plot twist que o espectador teve de engolir nos momentos finais: Andrea morreu na queda do avião ao tentar chegar em Nova York, temendo pela vida de seu irmão Mitch, que era para estar naquela aeronave. E, agora, Romano, o espírito sombrio que tanto perseguiu Melinda, agora está em posse da alma de sua melhor amiga.

E é daqui que começamos a segunda temporada de Ghost Whisperer.

Olá e adeus

Eu tô só a Melinda escrevendo esse texto

Adicionar mais camadas à relação entre Melinda, Andrea e Mitch antes dar o adeus definitivo à personagem de Aisha Tyler. Introduzir, de forma apropriada, dois novos protagonistas e um novo personagem regular na trama. Introduzir, oficialmente, a mitologia da série ao dar a Melinda, e ao espectador, os conceitos de espíritos de luz e trevas, a batalha que existe entre tais entidades, e dar informações concretas sobre o espírito das sombras que atormentou Melinda durante o ano que se passou.

Pode não parecer, mas todos esses tópicos narrativos, não só conseguiram ser bem executados nos dois episódios que iniciam a temporada, como, graças ao trabalho de John Gray, o criador da série que roteirizou e dirigiu tais capítulos, cada item recebe seu devido tempo de tela e consegue causar um impacto significativo aos envolvidos, a exemplo da própria despedida da Andrea.

As relativamente poucas cenas que foram dedicadas a tal assunto conseguiram afetar, em vários sentidos, a Melinda. A tristeza ao lembrar da melhor amiga. O terror de ver o poder e influência de Romano em provocar rachaduras até mesmo nas relações mais sólidas. A curiosidade em conhecer um pouco mais da relação fraternal dela com o Mitch. O alívio em conseguir salvar a amiga. A melancolia em ter que se despedir dela (tradução feita por mim no meio de choro pesado):
(A) Eu estou vendo ela. A luz... [suspiro de admiração] ela é mais linda que eu poderia imaginar.
(M) Vá em direção a ela. É assim que tem que ser.
(A) Melinda... [entre lágrimas] Eu vou sentir tanto a sua falta.
(M) [entre lágrimas] Você vai me ver de novo. E quando for minha vez de ir para a luz, é melhor você estar me esperando. [Andrea ri] É melhor você ser o primeiro rosto que eu ver ao chegar lá.
(A) Eu estarei esperando sim... Adeus. 

 

Adeus Andrea.
Obrigado Aisha Tyler.

Mudança de rotina

Como dito anteriormente, outro assunto de destaque destes dois episódios que iniciaram a temporada foi a introdução de três novos personagens regulares à trama: Rick Payne (Jay Mohr), um excêntrico professor da Universidade de Rockland especialista em ocultismo que tem um péssimo timing cômico, Delia Banks (Camryn Manhein), uma corretora de imóveis viúva que luta diariamente para preservar a memória de seu marido Charlie enquanto tem que lidar com seu filho adolescente Ned (Tyler Patrick Jones).

Novamente, o roteiro e direção de John Gray conseguem expor tais traços de personalidade ao espectador em pouquíssimas, porém, bem executadas, cenas e essa impressão inicial positiva é fundamental para que o fã crie um vínculo com os recém-chegados quando eles realmente começarem a ser explorados ao longo da temporada e se envolverem cada vez mais com o mundo espiritual, a começar pelo Jay Mohr.

Melinda e Rick tiveram uma das dinâmicas
mais interessantes da temporada

Sua interpretação como Payne é pontual, transitando facilmente entre o ceticismo, a incredulidade, o fascínio, a preocupação, o péssimo timing cômico, a demonstração totalmente autocentrada de seus conhecimentos em várias áreas. E isso, a meu ver, é somente melhor explorado na segunda metade da temporada já que, inicialmente, ele é tratado pelo roteiro como uma "enciclopédia ambulante" quase sempre disponível para a Melinda.  

Talvez seja essa uma das razões para que, nesta temporada, o Jay seja creditado como participação especial enquanto a Camryn já é creditada na abertura da série como protagonista. Felizmente, no terceiro ano, isso mudou quando seu personagem foi promovido a protagonista e seus nome também passou a aparecer na abertura.

Falando na Camryn, ao que parece, existia/existe um certo desprezo dos fãs pela Delia por ela rapidamente substituir o lugar da Andrea, não apenas como coproprietária do antiquário, principalmente como melhor amiga da Melinda também, dando o sentimento de que a produção toda esqueceu da Andrea rápido demais. Embora essa última sentença me pareça ser muito verdadeira, acredito que houve/há certo exagero nessa reação.

Delia, eu gosto de você sim. E vou te proteger sim.

Primeiro, passadas as comparações, Delia ainda é uma personagem para a Camryn chamar de sua e de ninguém mais. A atriz também entrega uma ótima performance. A ternura em falar sobre seu antigo marido, a maneira como ela guarda e conserva as coisas do Charlie, seu medo de esquecê-lo ao tentar seguir em frente com uma nova paixão, a tenuidade entre ser amorosa e rígida com seu filho. Eu admiro tudo isso nela; Eu genuinamente gostei da Delia, mesmo quando ela reagiu de maneira exagerada à verdade sobre a Melinda e, assim como a própria, acredito eu, em nenhum momento, eu senti que ela estava substituindo a Andrea.

Criatividade e letalidade

Em meu texto sobre a primeira temporada da série, elogiei como a produção gradativamente explorava e expandia a temática sobrenatural que estavam abordando e alegrou-me bastante ver que, neste segundo ano, os roteiristas, além de darem os primeiros passos em estabelecer uma mitologia para chamar de sua, decidiram refinar ainda mais os episódios do tipo "fantasma da semana".

Um exemplo disso foi a presença de dois fantasmas no mesmo episódio. Embora isso já acontecia esporadicamente na 1ª temporada (onde uma possui mais foco narrativo e a outra é mais secundária e fornece certo alívio cômico) e ainda ocorre dessa maneira neste 2º ano, uma mudança bem-vinda a esta dinâmica foi integrar ambas as almas à mesma história.

E a produção ainda vai além, colocando-os em posições opostas, onde um espírito, além de querer arruinar a vida daquele que está vivo, também visa impedir que a outra alma realize a passagem rumo à luz. Embora esta dualidade específica só ocorra em um episódio, ela exemplifica como os roteiristas podem explorar ainda mais o aspecto sobrenatural/procedural da série e ainda abre o precedente futuro de que, graças à influência de Romano e dos demais espíritos das sombras, nem sempre o final será feliz para a Melinda.

Senhoras e senhores, conheçam Romano.

Graças a um aparente aumento no orçamento da produção, o uso de CGI e efeitos práticos tornou-se mais frequente em relação ao ano anterior, embora continuem sendo utilizados, frequentemente, em visões e sonhos, o que está longe de ser ruim, já que tais recursos narrativos são integrados como maneiras para que um espírito, não podendo usar comunicação verbal, ainda possa contatar a Melinda. 

Também vale destacar que, ao que parece, as mentes criativas da série decidiram traduzir tais "novas ideias" como "novas maneiras para expor a personagem da Jennifer Love Hewitt a mais situações de quase-morte, sendo elas reais ou não". Assaltos, sequestros, pedras gigantes, carros caindo do céu,  naufrágios, destruição generalizada, o carro da própria Melinda perdendo o controle no meio de uma rodovia... É como se ela andasse com um alvo em suas costas e eu só consigo pensar se os produtores vão continuar com tais "incidentes" e o quão frequentes eles se tornarão nas próximas temporadas.

Dá para ver claramente o empenho dos produtores
em traumatizar a Melinda o máximo possível.

O que vem a seguir

Em um primeiro momento, parece que a produção cometerá o mesmo erro em tentar estabelecer uma para a temporada e falhar com isso, já que, mesmo com o Romano devidamente introduzido, ele somente aparece no primeiro episódio, mas o mini arco de 3 episódios que fecham a temporada compensa esse sentimento ao reunir sinais espalhados pelos capítulos de uma maldição que estava por vir e que pode mudar a vida pessoal da Melinda para sempre.

Em seu segundo ano, Ghost Whisperer consegue manter, ao longo de seus 22 episódios, uma qualidade constante e relativamente superior à sua temporada de estreia, em se tratando dos episódios procedurais e estabelecer os primeiros elementos de uma mitologia. Normalmente, eu faria uma lista com os episódios deste ano que mais se destacaram em minha opiniãomas, conforme a lista foi se formando, percebi que quase todos os 22 capítulos da temporada consegue oferecer algo único, tanto para a Melinda, como para o espectador. Mas uma coisa eu posso assegurar, o final de temporada foi de matar. De novo. Literalmente.

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