Meu nome é Melinda Gordon. Eu acabei de me casar, de me mudar para uma cidade do interior e de abrir meu próprio antiquário. Eu posso ser parecida com você, exceto que, quando eu era mais nova, eu sabia que eu podia conversar com os mortos ou, como minha avó costumava chamá-los, "espíritos terrenos". Eles ainda possuem assuntos inacabados com os vivos e eles vem até mim em busca de ajuda para que possam realizar a passagem deste plano para o próximo. Para contar a minha história, eu tenho que contar a história deles...
Dando voz aos mortos
Acredito que o monólogo acima deixa claro o suficiente sobre do que se trata a série, mas permitam-me acrescentar um pouco mais de conhecimento: criada por John Gray, escritor americano especialista em relacionamentos, e baseada na vida e obra de Mary Ann Winkowski e James Van Praagh, médiuns e escritores sobre espiritualidade, Ghost Whisperer é uma série procedural paranormal que gira em torno de Melinda Gordon (Jennifer Love Hewitt), seu marido,o bombeiro Jim Clancy (David Conrad), sua melhor amiga/parceira de negócios Andrea Marino (Aisha Tyler), a pequena cidade de Grandview e as dezenas de espíritos que buscam a ajuda de Melinda para resolver as pendências que ainda os prendem à Terra e, finalmente, descansarem em paz.
Como era de se esperar, Melinda possui o maior destaque desta primeira leva de episódios e o roteiro faz um bom trabalho em construir a personagem utilizando de pequenos diálogos e flashbacks para mostrar como seu dom afetou todos os relacionamentos amorosos e fraternos que já teve durante sua infância e juventude, como ele continua afetando-a, seja por, ocasionalmente, submetê-la a situações de risco de vida, seja através da reação inicial das pessoas quando em contato com ela.
Essencialmente, Jim só possui relevância na trama por ser marido da Melinda. Apesar de já ter experienciado contato direto com o sobrenatural, e seu trabalho como bombeiro já ter sido melhor explorado em certas ocasiões, o alicerce central de seu personagem é seu relacionamento com a Melinda. E é fácil de notar o quão sólido ele é, o que permite que, quando possível, Jim auxilie Melinda das diferentes maneiras que consegue sem nunca deixar de se preocupar quanto à sua esposa e quais perigos ela pode encontrar. Preocupação essa que, em um episódio ou outro, se torna uma necessidade de controlar a vida da Melinda. Embora ele tenha justificativa para agir assim, suas decisões não foram as melhores para lidar com a situação. E o fato dele reconhecer isso já o torna mais humano, mais característico de si próprio.
O pessoal da maquiagem e figurino estão de parabéns. Não tem uma cena em que esses 3 não estejam bonitos. |
É complicado para mim falar sobre a Andrea porque, embora o roteiro tenha feito um bom trabalho em tornar a personagem agradável ao público através de uma personalidade forte, curiosa, mente aberta, que gosta de explorar diferentes horizontes e sempre transmite serenidade, sinto que ele falha em promover algum arco narrativo para ela e sempre a renega ao esteriótipo de "Melhor Amiga Negra". O que mais se aproxima de um arco é a reaproximação com seu irmão, mas nem isso é devidamente explorado, deixando um gosto meio amargo de potencial desperdiçado.
Além disso, a meu ver, só há um capítulo da temporada onde o tempo de tela entre os 3 personagens estava balanceado e o envolvimento mais ativo de Jim e Andrea no "espírito da semana" realmente fez a diferença, além de representar uma evolução natural da dinâmica entre o trio. Embora esta seja a natureza padrão de séries procedurais de tudo voltar ao normal no capítulo seguinte, e o roteiro ainda fazer piada sobre como nenhum dos 3 vai realmente trabalhar naquele dia, ainda fico um pouco triste por não ver mais episódios como esse.
Rumo à luz
Sim, Wentworth Miller foi nosso primeiro fantasma. Eles haviam me conquistado logo aí. |
Quanto ao aspecto procedural, é notável como, gradativamente, a produção da série passa a explorar a temática sobrenatural que possui com maior criatividade, o que, honestamente, me traz um certo alívio. Mesmo explorando premissas simples, bastam pequenas mudanças nas características de cada espírito (personalidade, consciência, forma como morreu, a pendência que o prende...) para que um leque de novas possibilidades e consequências se abra e afete, não só a dinâmica dos personagens do episódio em questão, como o figurino, a direção, a edição a utilização de efeitos práticos e computadorizados, a montagem de certos cenários, praticamente tudo.
A série ainda tenta introduzir um antagonista para a Melinda neste primeiro ano, mas sua presença se limita a pequenas participações sem diálogo (no máximo uma risada maléfica) em cenas de episódios aleatórios, servindo apenas para levemente atiçar a curiosidade do espectador e causar nele a esperança de que, no episódio seguinte, alguma explicação será dada. Alerta de spoiler: ele só aparece de fato no season finale e só é devidamente introduzido no primeiro episódio da segunda temporada (eu não resisti, o cliffhanger foi de matar. Literalmente).
O amor nunca morre
- Piloto (Episódio 1)
- Lost Boys (Episódio 5)
- Ghost Bride (Episódio 10)
- Shadow Boxer (Episódio 11)
- Undead Comic (Episódio 12)
- Friendly Neighborhood Ghost (Episódio 13)
- Last Execution (Episódio 14)
- Melinda's First Ghost (Episódio 15)
- Dead Man's Ridge (Episódio 16)
- Free Fall/The One (Season Finale de 2 partes)