Em comemoração ao Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, decidi trazer a resenha do livro Sejamos Todos Feministas, de Chimamanda Ngozi Adichie, uma escritora nigeriana conhecida principalmente por seus romances Hibisco Roxo e Americanah.
Sinopse:Chimamanda Ngozi Adichie ainda se lembra exatamente do dia em que a chamaram de feminista pela primeira vez. Foi durante uma discussão com seu amigo de infância Okoloma. “Não era um elogio. ‘Percebi pelo tom da voz dele; era como se dissesse: Você apoia o terrorismo!’.” Apesar do tom de desaprovação de Okoloma, Adichie abraçou o termo e - em resposta àqueles que lhe diziam que feministas são infelizes porque nunca se casaram, que são “antiafricanas” e que odeiam homens e maquiagem - começou a se intitular uma “feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens”. Neste ensaio preciso e revelador, Adichie parte de sua experiência pessoal de mulher e nigeriana para mostrar que muito ainda precisa ser feito até que alcancemos a igualdade de gênero. Segundo ela, tal igualdade diz respeito a todos, homens e mulheres, pois será libertadora para todos: meninas poderão assumir sua identidade, ignorando a expectativa alheia, mas também os meninos poderão crescer livres, sem ter que se enquadrar em estereótipos de masculinidade. Sejamos todos feministas é uma adaptação do discurso feito pela autora no TEDx Euston, que conta com mais de 1,5 milhão de visualizações, e foi musicado por Beyoncé.
Nos últimos anos, a cultura de transformar palestras em livros se tornou mais comum do que nunca. Alguns exemplos disso são as adaptações O discurso “Faça Boa Arte”, de Neil Gaiman; Buracos Negros, de Stephen Hawking; e O perigo de uma história única, da própria Chimamanda – todos altamente recomendados.
Mas Sejamos Todos Feministas é um que me marcou muito e sobre o qual eu penso constantemente. Afinal, o que significa ser feminista? Deveria eu me considerar uma feminista? Por quê? Nesse pequeno ensaio, a escritora desmistifica, através de suas próprias experiências, o que é ser feminista e por que nós todos deveríamos ser.
Contextualizando seus pensamentos com exemplos de sua própria vida, Chimamanda nos traz um ponto de vista baseado na cultura nigeriana, que não difere muito da que encontramos em nosso país, embora seja ainda mais explícita.
Toda a problemática da opressão de gênero é trazida à tona com exemplos reais dos impactos causados pela mesma, e se torna bizarro pensar o quanto o simples fato de ser mulher pode influenciar as escolhas de uma pessoa. Além disso, o ensaio fala sobre as diferenças como criamos nossos filhos e filhas e a importância de mudarmos isso. Afinal, como diria Tupac, “o ódio que você passa para as crianças fode com todo mundo”. (Sim, ele disse isso sobre raça, mas acho que podemos aplicar aqui também.)
“A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da cultura, então temos que mudar nossa cultura.”
Outro ponto que vale a pena ressaltar é o fato de Chimamanda pensar sobre como o feminismo é visto nas sociedades. No Brasil, por exemplo, não temos o costume de chamarmos um homem de feminista, mas, na visão dela, como uma mulher negra nigeriana, tanto mulheres quanto homens podem ser considerados feministas. E, no final, isso faz sentido. Afinal, feminismo é uma palavra que carrega ideais.
O machismo não afeta somente as mulheres, embora sejamos nós as mais aparentemente prejudicadas. A masculinidade imposta a meninos desde cedo faz com que eles percam um pouco de humanidade, pois aprendem a suprimir os sentimentos – e não por acaso 76% dos suicídios no Brasil são cometidos por homens.
Sejamos Todos Feministas é uma leitura divertida, fácil, rápida e intrigante que nos faz questionar tudo o que pensamos a respeito de feminismo. Ao mesmo tempo que é bem básico, apresentando a ideia geral em vez de se concentrar em uma vertente, é muito inspirador. A Chimamanda é uma pessoa que admiro não apenas por sua escrita, mas também por sua visão de mundo. Esse ensaio, assim como todos os outros que ela já escreveu, é uma leitura recomendadíssima, principalmente para os que têm curiosidade sobre o assunto.
“Imagine como seríamos mais felizes, o quão livres seríamos para sermos nós mesmos, se não tivéssemos o peso das expectativas de gênero.”
Caso tenha se interessado, o e-book encontra-se gratuito na Amazon. Além disso, você também pode assistir à palestra que inspirou o livro e ouvir a música de Beyoncé inspirada no discurso, que tem uma breve participação de Chimamanda.
Ficha Técnica
Título: Sejamos Todos Feministas
Título original: We should all be feminists
Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Tradução: Christina Baum
Editora: Companhia das Letras
Edição: 1ª ed., 2015