Bem-vindos a Coral Harbor, a primeira cidade 100% abastecida por Morph-X, uma forma de energia limpa e proveniente da Rede de Morfagem.
A Grid Battleforce está aqui para proteger tal fonte de energia de quaisquer ameaças ascendendo seus melhores cadetes a Power Rangers...
Ao menos, esse era o plano original, mas um vírus auto-intitulado Evox sabota o processo de transformação e rouba dois dos cadetes para si, cabendo ao candidato remanscente, uma garota da lavanderia e o filho do prefeito protegerem o Morph-X e, com isso, a Rede de Morfagem e o mundo.
Feras à solta
Já nos primeiros episódios vemos um salto notável de qualidade nos roteiros em relação às duas temporadas anteriores, Ninja Steel e Super Ninja Steel.
A trama se preocupa em desenvolver gradualmente os elementos narrativos necessários. Se conseguem um resultado satisfatório na primeira luta, é porque já possuem experiências em luta. Se conseguem montar o MegaZord, é porque treinaram para tal. Se querem armas e combinações novas, eles pesquisam para esse fim.
Embora os episódios-bolha ainda estejam lá, essa abordagem mais serializada permite a criação de mais arcos narrativos, algo que não se via há um bom tempo.
Exemplo disso é a adaptação, no 2º ano da série, do filme crossover de Go-Busters (Série Super Sentai que originou Beast Morphers) com Kyoryuger (Sentai que originou Dino Charge) em um arco de 5 episódios que é introduzido de maneira despretensiosa, progride com o envolvimento de alguns vilões do passado e é encerrado de maneira eficiente, embora apressada. Um sexto episódio, a meu ver, teria feito a diferença.
O grande arco narrativo da série é satisfatório. É simples, cumpre muito bem seu papel de entreter, compensa o tempo investido no total de 44 episódios, consegue fazer conexões mais orgânicas com elementos da mitologia da série, suas equipes, seus vilões, seus mentores e até mesmo seus equipamentos, chegando, em sua reta final, até a introduzir um plot twist que agrada tanto os fãs de longa data como os de primeira viagem.
Todo o elenco principal da série é carismático, não só por causa de seus atores, mas porque o roteiro trabalha para dar personalidade além de serem Rangers, algo que Ninja Steel, a temporada anterior, teve dificuldade em fazer.
Eles exploram hobbies, cometem erros, possuem segredos, quebram algumas regras, se relacionam de maneira mais íntimas, não só entre si, mas com seus pais. Parece algo simples, mas são esses pequenos detalhes que a fazem valer a pena.
Nova casa, nova produção
As imagens da esquerda são de Go-Busters. As da direita são de Power Rangers. |
Como os roteiros já tinham sido escritos antes da franquia ser comprada pela Hasbro aqui, a Saban entrega um dos melhores trabalhos, senão o melhor, que a empresa fez com os heróis coloridos desde que havia readquirido os direitos da franquia da Disney em 2011.
Ainda assim, creio que a visão que os produtores tinham para a temporada só pode ser traduzida inteiramente para a tela graças à Hasbro e um notável aumento no orçamento, possibilitando a filmagem de mais cenas originais, incluindo algumas batalhas com os MegaZords, com direito a uma recriação quase impecável das cabines de controle.
Outro detalhe que reforça o comprometimento da empresa com sua nova propriedade é que Go-Busters, a série Super Sentai que deu origem a Beast Morphers, é de 2012 e, segundo rumores, ao adquirir as fantasias da Toei, algumas estavam tão danificadas que tiveram que ser feitas do zero, incluindo o uniforme dos Rangers.
Erros no sistema
Potencial desperdiçado resumido em uma só imagem |
Ainda que seja uma ótima jornada, existem alguns buracos na estrada. Talvez o mais notável seja o potencial desperdiçado de Roxy e Blaze.
As versões vilanescas são rasas, pouco desenvolvidas e, quando mostram algum traço de personalidade e ambição, elas são punidas pelo próprio roteiro. E os humanos conseguem ser mais esquecíveis ainda.
Mesmo quando conseguem se recuperar do coma do episódio inicial, pouco aparecem e pouco são importantes na trama geral. Com o aumento de cenas originais, esperava que as versões humanas participassem das operações junto aos Rangers, afinal eles treinaram para isso. O final de seus personagens é, de certa forma, incoerente com o que foi proposto inicialmente.
A Saban, novamente, inseriu uma dupla cômica para tentar reproduzir o carisma de Bulk e Skull, algo que ocorre desde 2011. Ben e Betty, ainda que sejam carismáticos devido à sinergia de seus intérpretes e, de maneira não-proposital, ser relevantes na trama em algumas poucas ocasiões, não são desenvolvidos e seus segmentos cômicos, mesmo quando conseguem um riso do espectador, deixam a sensação de que não havia a necessidade daquilo.
Algumas decisões do roteiro precisam de um pouco mais de suspensão de crença do espectador, principalmente no final. Como já afirmei acima, eles estão longe de serem ruins.
Me senti satisfeito com o que vi, porém, sem dar muito spoilers, me incomodou que, embora os Rangers já soubessem de uma maneira de derrotar o Evox, prefiriram ir por um abordagem diferente para, mais tarde no mesmo episódio, voltarem a essa abordagem anteriormente conhecida como uma solução de última hora.
Uma nova era se inicia
Mesmo com tais deslizes, que são mais provenientes do roteiro da Saban, a Hasbro, em sua primeira temporada, mostrou que, não só entende Power Rangers e seu potencial, como consegue, pretende e irá expandir ainda mais a franquia com jogos, filmes, animações e séries para o público adulto, além de continuar com as séries em quadrinhos e as produções infanto-juvenis, que continuam agora com Power Rangers Dino Fury: