Séries & TV

Crítica - Cidade Invisível

Cidade Invisível produção da Netflix com Marco Pigossi, Alessandra Negrini e grande elenco


















E se as lendas do folclore brasileiro tomasse vida? Se você cruzasse na rua, sem querer, com o saci-pererê, curupira e muitos outros? Não é de hoje que ouvimos pedidos de adaptações para essas lendas, e atendendo à esses pedidos recebemos, 'Cidade Invisível', onde a rica cultura do Brasil ganha vida pelas mãos da Netflix.


O folclore  brasileiro toma forma nas telas, em um mundo comum, se escondendo entre pessoas comuns, passando despercebidas, e é essa a jogada da série. A produção criada por Carlos Saldanha (Rio, A Era do Gelo) chegou na plataforma da Netflix no último dia 05/02 e vem dividindo opiniões.

Sinopse

Um detetive, arrasado pela morte da esposa em um incêndio misterioso, resolve investigar por conta própria as causas do incidente, se deparando com uma guerra travada entre entidades folclóricas e uma construtora que ameaça os moradores de uma reserva florestal. 

A ideia por si só já sustenta toda uma narrativa. Trazer a tona os principais personagens do folclore brasileiro, numa pegada séria, envolvendo problemas reais é o que garante o brilho para a trama. De certa forma, as lendas sempre envolveram questões ambientais. As figuras sempre traziam lições para o povo, e é nesse sentido que a trama vai se construindo. 



Se analisarmos desde a fórmula principal, com: Suspense policial, mistério e fantasia, essa produção tinha tudo para ser excelente, mas, nem tudo são flores nessa vida, e nem só de boas ideias, se sustenta uma série. 

Roteiro

O roteiro apresenta uma narrativa conhecida das produções de suspense policiais. Um crime sem explicação, é tratado como acidente, um policial diretamente ligado a vítima não aceita o desfecho e decide investigar sozinho. Nesse processo os clichês são inevitáveis, a trama tenderia a cair numa narrativa arrastada com pontos de explosão, o que foi sabiamente contornado pelo curto tempo da série, pelo menos durante os quatro primeiros episódios. 

Existem cenas muito bem trabalhadas, e a atuação de alguns atores facilita e muito a condução da estória, mas trataremos disso depois. O suspense e a aparição repentina das figuras folclóricas, em suas formas humanas, te deixa curioso, faz você se perguntar de quem se trata, porém, os mistérios são facilmente desvendados. Não há tempo de digerir cada ato, de conhecer e entender a motivação de cada personagem. Aparentemente todos os personagens são descartáveis, dentro de uma trama que se propôs ser tão densa e instigante, todavia, que nos entrega algo raso, superficial e com pouquíssimas surpresas.  


Os supostos Plot Twists são previsíveis, a brincadeira de adivinhe quem é o vilão, não funciona dentro do contexto apresentado. Temos a impressão de existiam muitos meios para se contar essa história de forma concisa, no entanto, resolveram usar todos, ao mesmo tempo, o que não funcionou muito bem. Cada figura tem sua história, sua origem, e suas motivações, entretanto, mais uma vez não temos tempo de assimilar, tornando-se irrelevantes dentro da narrativa.  

Vários personagens perdidos no baile, e o foco vai sempre pro protagonista (lógico), que parece participar de todos os eventos, mesmo não sendo chamado. Os núcleos secundários não desenvolvem, tendo várias cenas de pura 'encheção' de linguiça, o que não influi em nada para a série. 

Elenco

Não podemos negar que foram chamados alguns atores bem conceituados, que conseguem dar o tom certo para seus personagens, outros, nem tanto. No que depender de Marco Pigossi,  Alessandra Negrini e  Fábio Lago, temos ótimas atuações, precisas, leves, conduzem a cena com a tranquilidade que a experiência os confere. Todavia, experiência demais em atuação no Brasil, pode te levar para o padrão novela global de ser, que acabou sendo o caso de José Dumont, me levando para uma atmosfera novela das 21h. 




Os anônimos, ou pouco conhecidos,  tentaram mostrar serviço, e alguns realmente conseguiram, que o caso da atriz Tainá Medina (Fabiana), que consegue aplicar o tom certo para sua personagem, com a emoção e intensidade necessária para Fabiana. Jessica Corres foi outra ótima surpresa, deixando a Iara (ou Camila) com um ar misterioso e ao mesmo tempo, fragilizado, uma pena apenas o próprio enredo quebrar essa condução da personagem. Entre os outros, temos atuações apáticas, rasas e por vezes genéricas.  


Imagem e Efeitos Visuais

Nesse quesito, eu sou obrigado a tirar o chapéu. Os efeitos foram aplicados de forma corretíssima, sem excessos, por vezes sutis, deixando sempre um ar mais orgânico. Pode ter sido devido ao orçamento limitado? Provavelmente. Mas isso não minimiza o fato de Saldanha ter sabido onde encaixar cada cena. 




A fotografia também é um diferencial, com cortes mais próximos a tela, sempre focando no rosto, sobretudo nos olhos dos personagens. Traz uma intimidação, uma seriedade e o suspense que as cenas pediam, mesmo algumas cenas não levando a lugar nenhum. 


Cidade Invisível é mais uma grande ideia comprada pela Netflix, mas que mostra o mal aproveitamento do potencial brasileiro. Não quero desmerecer a obra, já que, mesmo com todos os deslizes ainda segue sendo um bom entretenimento, porém, torço para que se encontre melhor em uma suposta segunda temporada.

Ficha Técnica  

Título Original: Cidade Invisível
Ano produção: 2020
Distribuidora: Netflix
Classificação: 16 anos
Dirigido por: Júlia Pacheco Jordão, Luis Carone, Carlos Saldanha
Elenco: Marco Pigossi, Alessandra Negrini, Julia Konrad, Victor Sparapane, José Dumont, Samuel de Assis
Gênero: Aventura, Fantasia, Ação
Países de Origem: Brasil

Biológo, amante da natureza, aprendiz sith. Fã de animação, séries e filmes...queria ser um dobrador de água, mas a vida lhe fez nascer na nação errada.


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