Ariano Suassuna, escritor paraibano, já havia nos alertado que é preferível "enfrentar os buracos da estrada do que aquele buraco que te acompanham a viagem inteira". Ele estava falando sobre o seu medo de encarar um avião. Nosso medo ultimamente tem sido outro, por isso a nossa "ponte aérea" te proporcionará voos sem enfrentar os buracos da estrada e muito menos aquele imenso abismo visto da janelinha do avião. O único perigo atual é o tal do vírus e nada melhor do que Digimon Adventure (2020) para nos ajudar nessa batalha.
Aperte o play e venha fazer uma viagem que é tanto digital quanto temporal (falo especialmente para aqueles que acompanharam a série original). O anime que vamos falar é o remake da primeira temporada de Digimon ou, se preferir, Digimon Adventure (2020).
Nossa primeira ponte aérea é com o Japão e o mundo digital que o habita na série. O remake é uma mistura nostálgica com um tempero da segunda década do século XXI. Estamos diante de um universo da série quase idêntico ao nosso. Falo isso porque no primeiro episódio do remake (EP 1: Crise digital em Tokyo) é possível ver todos se comunicando com seus smartphones, inclusive o nosso protagonista Taichi Yagami (Tai para quem já o conhece desde 1999).
A atualização foi fundamental porque torna o mundo digital mais aceitável por nós hoje. Afinal, retomar 1999 neste momento não seria nem um pouco atrativo ainda mais se pensarmos que o objetivo do remake pode ser tanto nostálgico quanto de renovação do público. Ponto positivo para a Toei Animation.
Assim, em um mundo que "vive a era digital" é claro que um problema na rede pode atrapalhar tudo, incluindo o sistema que controla as linhas de metrô no Japão, certo? Positivo e operante. Entretanto, o problema está na sequência de tudo isso.
Pausa em Digimon Adventure. Vocês se recordam de Full Metal Alchemist: Brotherhood? Lembra do quão importante são aqueles primeiros episódios? Pois é. Não são, e em digimon tenho a mesma sensação. A ideia de apresentar o personagens gradualmente é ótima, mas o tal do vírus parece bem genérico.
Na sequência temos mais dois episódios (EP 2: Jogo de geurra e EP 3: Rumo ao mundo digital) que seguem com uma batalha bem sem graça contra o vírus. Se o objetivo foi fazer um paralelo com o momento em que vivemos (o que duvido muito que tenha sido isso), então eles falharam. E se o objetivo não foi esse (o que acredito), então eles falharam também. Parece que a série só começa de fato no EP 4: O voo de birdramon, o que, ironicamente, ainda não foi lançado.
Apesar do péssimo "primeiro vilão", Digimon Adventure dá pistas de que as coisas podem ser melhores nessa nova versão e que ele pode sim se configurar como um dos melhores remakes de uma série animada japonesa. Eis alguns aspectos: a ideia de desenvolver melhor cada personagem é ótima e a relação familiar parece que vai estar presente de forma mais intensa (o primeiro digimon já tinha isso e parece que estão melhorando mais ainda).
Por enquanto é isso. Infelizmente parece que Digimon Adventure terá sua produção adiada por conta do coronavírus. Enquanto no mundo digital eles já derrotaram o tal do vírus, no mundo real, a luta segue...
Até a próxima ponte aérea!