Quem tem mais de 30 anos já assistiu algum tokusatsu em algum momento da vida. Seja com os clássicos Changeman, Jaspion, Jiraiya, Kamen Rider Black e os demais que passaram na Manchete, seja com obras não tão antigas como Ultraman Tiga (que passou na Record em 2000) e Madan Senki Ryukendo (exibido na Rede TV em 2009). O retorno de algumas delas à TV aberta e a adição no catálogo de alguns serviços de streaming, aproveito para falar um pouco de uma das séries que podem ser assistidas no Brasil e que pode agradar quem procura algo mais sério: Garo, disponível no Amazon Prime Vídeo.
Garo é uma franquia que nasceu em 2005, quando a primeira série foi exibida no Japão, criada por Keita Amemiya, um veterano na indústria do tokusatsu, famoso por ter criado Kidou Keiji Jiban (exibida pela Manchete no Brasil) e trabalhado como diretor ou na criação de personagens e monstros de diversas outras séries como Kamen Rider Black e Black RX, Spielban, Winspector, Jetman, Liveman e Kamen Rider Decade.
A proposta de Garo é uma que surgiu em 2004 com Ultraman Nexus: um tokusatsu para adulto, deixando de lado as partes infantis para vender brinquedos e substituí-las por mais violência, temas mais maduros e até uma eventual nudez leve. Virou um sub-gênero (que é tema para outro dia) que deu origem a muitas produções.
Garo se passa em um mundo normal, em que existe uma organização secreta chamada Ordem Makai, criada para lutar contra os chamados Horrors, demônios que são manifestações da energia negativa criada por sentimentos ruins. Cada vez que há um ato de violência ou algo similar, há uma chance da energia criar um portal e um Horror passar do Mundo Makai para o nosso. Quando isso acontece, o monstro domina uma pessoa para poder devorar mais pessoas.
Para combater os Horrors, a Ordem Makai conta com os Cavaleiros Makai, que fazem o trabalho de extermínio. Eles usam armas feitas com um metal especial chamado Soul Metal, a única coisa que pode ferir um Horror, além de usar armaduras feitas do mesmo material. Há um limite de uso da armadura, que só pode ser vestida por 99,9 segundos, ou ela irá começar a devorar o usuário.
Na primeira série, o protagonista é Kouga Saejima, herdeiro da armadura dourada Garo, conhecida como a mais forte da Ordem Makai. Ele acaba cruzando caminho com Kaoru Mitsuki, uma artista que é tocada pelo sangue de um Horror, o que faz com que ela atraia mais demônios e que levará ela a uma morte dolorosa por envenenamento.
A primeira temporada tem 25 capítulos e, por um tempo, segue o esquema de monstro da semana, avançando a trama principal lentamente, para introduzir os elementos do mundo como a Ordem Makai e como as armaduras funcionam. Outro problema é que os primeiros episódios tem lutas muito curtas (embora bem coreografadas) e o uso de um CGI que agora parece datado. Melhora bastante com o passar do tempo, com roteiros melhores, lutas mais intensas e menos CGI.
Apesar do tropeço inicial, Garo fez sucesso e virou uma franquia de tamanho respeitável. Recebeu dois filmes que se passam depois da primeira série: Beast of the Midnight Sun e Red Requiem (esta também disponível no Amazon Prime Video), além de um prequel chamado Kiba. Em 2011 ganhou uma segunda série chamada Makai Senki, que continua a história de Kouga. Desde então surgiram várias outras obras, como a série Yami Wo Terasu Mono, que tem outro protagonista como Garo; e Makai no Hana, protagonizado por Raiga Saejima, filho de Kouga e que também se torna o cavaleiro dourado. Teve até três animes que contam histórias paralelas. A produção mais recente é Garo Versus Road, lançada em abril deste ano e que muda totalmente o cenário para um tipo de jogo virtual.
Para quem quer gostava dos tokusatsu antigos e sempre pensou em como seria algo mais sombrio, Garo é uma boa pegada. Há algumas coisas a superar, como o começo mais lento e o CGI datado, mas funciona muito bem quando ganha ritmo. Seria bom se a Sato Company, empresa que trouxe a série ao Brasil, pudesse trazer as continuações (ou ao menos a Makai Senki, que é a melhor temporada).