Como consumidores, estamos sempre esperando por novidades. No ramo do entretenimento não é diferente, mas nada impede de revisitar aquilo que, em algum momento, já nos deu felicidade. Esse é meu caso com How I Met Your Mother, mais especificamente seu episódio de número 200, intitulado How Your Mother Met Me / Como Sua Mãe Me Conheceu, um episódio que, estranhamente, consegue se sustentar isoladamente, tanto é que várias vezes o assisto de maneira despretensiosa, somente para matar a saudade.
Com amor, Max
Exibido originalmente em 27 de janeiro de 2014, tal episódio poderia ter dado muito errado. Além de manter o nível de drama e comédia apresentados em episódios passados, tinha que, no mínimo, ser uma boa homenagem à mitologia da série, criada ao longo daqueles últimos 8 anos, algo que se espera de um episódio de número 200. Felizmente, o roteiro escrito por Carter Bays e Craig Thomas, criadores e showrunners da série, ao trazer pequenas referências, corrigir pequenos furos de roteiro e centralizar a temática no passado da Mother, aliados à atuação pontual de Cristin Milioti, transforma este em um dos melhores episódios do seriado, sustentando uma nota de 9.5 no IMDb.
A decisão proposital de iniciar com aquela clássica fala do piloto "Haaaaaave you met Ted?" para, imediatamente, surpreender os menos avisados, subvertendo suas expectativas ao revisitar alguns dos melhores momentos da trama de forma mais sutil, puxando o foco do episódio para Tracy ao invés do quinteto principal, com direito a seu próprio grupo de amigos, uma mesa própria em um bar e uma abertura própria, como se fosse um backdoor pilot (um piloto de um spin-off dentro de uma outra série), mostrava que estávamos diante de um episódio fora do padrão, mas que continuava familiar, como o episódio do game show em "Quem Quer Ser o Padrinho" da 8ª temporada, mas menos exagerado.
Se você aceita facilmente tal ideia, não encontra dificuldade em se conectar com a Mãe (até então, sem nome) principalmente na mudança de expressão facial e toma de voz ao perceber que alguém estava ligando para ela do celular de seu namorado Max, mas não era ele. A cena seguinte só confirma o pensamento induzido. Sem falas. Somente uma trilha sonora melancólica, um presente em cima da mesa de centro que continha um ukulele e um cartão.
Depois do primeiro
Os saltos temporais aqui presentes, além de cobrir eventos de temporadas anteriores relacionados à própria Mãe, antes tratada como uma figura abstrata, uma entidade (a festa de São Patrício onde o guarda chuva amarelo foi deixado, a sala de faculdade que Ted entrou por engano, o encontro frustrado do Ted com a Cindy, entre outros que poderia listar por horas a fio), dão a chance de brincar e complementar alguns fatos introduzidos em outras ocasiões que, se antes não envolviam, agora envolvem indiretamente a Tracy, servindo de timing cômico e easter eggs (ela ter sido o despertar lésbico da personagem da Rachel Bilson e ser o motivo da cantada do Homem Pelado funcionar somente em 2 de 3 casos, por exemplo).
Essa cara... atuação de qualidade |
Em paralelo, vemos sua luta em seguir sua vida, passando por sucessivos outros traumas e inconveniências da vida, a começar pelos pelo primeiro salto (de 2 anos) e a indicação que, nesse período, pouco ela havia aproveitado de sua vida. Dou ênfase a esse detalhe inicialmente em particular porque essa sutil alusão à depressão, proposital ou não, me fascina, no momento que estou escrevendo esse texto. É perceptível o quanto ela sente falta do Max e leva isso para todos os outros gestos e falas. Ela deixou de sair com seu antigo grupo e até tentou um novo relacionamento com Louis e aceitou, ao que parece, sem muita resistência, sua situação atual na banda depois que o Darren apareceu, até que sentiu-se ameaçada. E eu ainda nem falei da despedida da Mother com o Max.
[Cindy bejia Tracy]
Cindy: Me desculpa!
Tracy: Não, está tudo bem. Foi legal.
Tracy: Eu não sou beijada há um bom tempo.
[Ambas se abraçam]
A versão inglês e reduzida de La Vie en Rose cantada por Cristin, entoada pelo ukulele, seguido pela narração do Ted do futuro dizendo que aquela primeira vez sempre será a versão favorita dele, num tom de voz suave, quase nostálgico, como se ela não estivesse mais entre eles (e, como descobriríamos 8 episódios depois, ela não estava) é uma das cenas simples, mas que carrega tamanha emoção que eu não consigo ver ela sem chorar e depois bater palmas para esse episódio que tanto revejo quando sinto falta de How I Met Your Mother.
Que dure para sempre
Cobrir essa gama de eventos em 22 minutos faz com que o episódio dê poucos momentos de respiro. A cada momento fomos bombardeados por novas informações sobre a personagem de Milioti que me faz pensar o porquê de não distribuir grande parte desses acontecimentos ao longo da temporada. Se o objetivo da então temporada final era, além de contar a história do casamento de Barney e Robin, finalmente conhecer a mãe, distribuir gradualmente esses fatos sobre seu passado, da mesma maneira que seus encontros com o quinteto principal. Além disso, esse episódio teria sido o melhor momento para revelar seu nome para o público.
Apesar de ter adorado o momento quando descobrimos junto ao Ted, embaixo do guarda chuva amarelo, na estação de trem de Farhamptom, após o casamento de Barney e Robin, o nome Tracy McConell, esse ter sido justamente a última cena da personagem, após vermos os primeiros encontros, os dramas, a gravidez não planejada, o casamento, antes megalomaníaco, agora simplório, com apenas os 6 e, por fim, sua irônica, desnecessária e propositalmente chocante morte (e eu digo isso como um defensor do final oficial da série) pode causar com que a conexão entre espectador e personagem, ainda que exista, poderia ter sido mais profunda.
Apesar de ter adorado o momento quando descobrimos junto ao Ted, embaixo do guarda chuva amarelo, na estação de trem de Farhamptom, após o casamento de Barney e Robin, o nome Tracy McConell, esse ter sido justamente a última cena da personagem, após vermos os primeiros encontros, os dramas, a gravidez não planejada, o casamento, antes megalomaníaco, agora simplório, com apenas os 6 e, por fim, sua irônica, desnecessária e propositalmente chocante morte (e eu digo isso como um defensor do final oficial da série) pode causar com que a conexão entre espectador e personagem, ainda que exista, poderia ter sido mais profunda.
How Your Mother Met Me consegue uma façanha de se manter em timing dramático, cômico, dentro e fora do contexto do nono ano. Foi um sopro de ar fresco em uma das, senão a mais controversa temporada da produção. Foi a maneira de reforçar o "Oi" mais simples antes de dizer o "Adeus" mais injusto à Tracy.
Sempre será minha favorita. |
Curiosidade: Bays e Thomas, os mesmos roteiristas desse episódio, escreveram o series finale. Lidem com isso.