Muito Batman para pouco tempo
Começando pelo óbvio: com o início de mais esta franquia do Cavaleiro das Trevas, veremos a quinta versão do herói a entrar nos cinemas. De 1989 para cá, foram 10 filmes protagonizados pelo personagem, vivido por 6 atores (sim, LEGO Batman está nesta contagem). Isso se ainda ignorarmos os longas animados lançados pela DC, como Batman Contra o Capuz Vermelho, Piada Mortal, Batman: Sangue Ruim e por aí vai.
A DC/Warner focou tanto em longas do alter-ego de Bruce Wayne, que não teve apenas um ano nesta década em que o personagem não tenha aparecido em um filme inédito, fosse em live-action ou de forma animada. Só em 2016, o Batman apareceu em 5 filmes, entre eles, o famigerado Batman v Superman que, apesar de todos os seus defeitos, nos presenteou com o chamado Batffleck.
No meio de toda a bagunça que foi o filme de Zack Snyder, a atuação de Affleck como o Morcegão talvez seja o único consenso positivo entre crítica e público na época do lançamento do filme. Mesmo a participação de Gal Gadot como Mulher-Maravilha sofreu por ter sido curta demais. Mas, um divórcio, algumas semanas na rehab e um Liga da Justiça depois, fomos obrigados a, aos poucos, dar adeus a mais um ator a colocar o capuz.
Bye bye, Ben
Como já sabemos, o processo de saída de Affleck da Batcaverna foi lento e doloroso. Primeiro, vimos ele ser retirado da direção do filme por conta problemas em sua vida pessoal, que resultaram em sua separação de Jennifer Garner e um retorno à reabilitação para tratar vício em álcool e remédios. Logo depois, seu substituto, Matt Reeves, mal assinara com a Warner e já gritou para todo mundo ouvir que estava jogando fora o roteiro de Affleck (já aprovado pelo estúdio) para começar o trabalho do zero.
A cereja do bolo veio na confusão que foi Liga da Justiça. Claramente desanimado, o ator até tentou, mas não conseguiu mostrar aquele mesmo Wayne de um ano antes. Entre vários vai-e-vens sobre sua permanência no papel, Reeves, Warner e o próprio Affleck confirmaram que um novo ator viveria o Batman a partir de 2021.
Toda essa história, além de ser digna de novela, já deixa alguns fãs de má vontade com o já muito criticado DCEU. Affleck se provou um grande diretor e roteirista em sua carreira, levando para casa estatuetas do Oscar por Gênio Indomável e Argo, além de ter entregue boas atuações no já citado BvS e Garota Exemplar. A decisão da Warner, independente da escolha de seus sucessores, priva o espectador do que poderia ter sido um grande filme.
Saturou?
Além dos vários e vários longas que tivemos entre 2010 e 2017 com o Batman como figura central, não podemos esquecer que ele também tem sido presença constante na televisão. Apesar de coadjuvante, Bruce é uma das estrelas de Gotham, série da FOX que está em sua quinta e última temporada, foi citado em diversos momentos do Arrowverse da CW (que também adaptou alguns de seus vilões para o Arqueiro-Verde, em Arrow) e é o grande vigia do grupo protagonista da animação Justiça Jovem.
Não é preciso ir muito longe para ver que a sombra do Batman cobre toda e qualquer adaptação de personagens da DC produzidas nos últimos anos. Nos próximos, aliás, ainda teremos uma série solo da Batwoman, introduzida no Arrowverse no final do ano passado, e, provavelmente, um confronto direto entre Dick Grayson (Brenton Thwaites) e seu pai adotivo na segunda temporada de Titans.
Mesmo sem vermos explicitamente a capa e as orelhas, sabemos que o Batman está lá e, mesmo sendo o motivo para que muitos assistam a estes programas, ele acaba ofuscando os outros personagens em tela.
A alternativa
Como eu disse, o Batman parece onipresente nas produções da DC na televisão, mesmo que apenas em forma de citação ou nas sombras, como em Titans. Com o crescimento do serviço de streamming DC Universe (que em 15 de fevereiro começou a transmitir também Patrulha do Destino), não é exagero dizer que as adaptações televisivas da editora não devem desacelerar tão cedo.
Se precisamos TANTO ter Bruce Wayne em nossas vidas, que ele seja servido de forma mais homeopática, a exemplo do Superman de Tyler Hoechlin e suas aparições periódicas em Supergirl. Mesmo com os desastres recentes enfrentados tanto por Affleck quanto Batman, um reboot total nos cinemas é precoce, ainda mais considerando todos Batmans de todos os multiversos espalhados em sabe-se lá quantas séries a DC tem planejadas.
Sim, Matt Reeves é um grande diretor e, sim, eu gostaria de ver um filme noir focado nas habilidades de detetive do, bem, "maior detetive do mundo". Mas, entre ter "só mais um" novo e apressado Batman no meio de tantos outros (que também ainda estão se estabelecendo) e esperar, digamos, 8 ou 10 anos para "limpar o paladar", como foi na bem-sucedida troca entre George Clooney e Christian Bale, eu prefiro a espera.