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#VoltronFinalBattle - Crítica do final (SEM e COM SPOILERS)

Ainda que não agrade a todos, a última temporada do Defensor Lendário reforça a série como uma das melhores animações da Netflix.


Uma última história. Um último inimigo. Uma última chance para cumprir com seu destino. Fica a pergunta no ar: valeu a pena? Esses 13 últimos episódios fazem jus ao legado do Defensor Lendário, às 7 temporadas que, lentamente, nos fizeram chegar a esse momento? Para a leitura, recomendo a
faixa sonora abaixo, executada na última cena do último episódio:







VERSÃO CURTA SEM SPOILERS


A meu ver, essa última temporada de Voltron se assemelha com a 6ª temporada de Lost e a 9ª temporada de How I Met Your Mother (que também foram temporadas finais). Havia grandes expectativas em cima delas por parte dos fãs (e com razão) e eles saíram divididos. Parte contente, parte não muito contente, mas satisfeita, e uma grande parte frustrada. Eu me encaixo entre o contente e o satisfeito.

Essa foi a melhor temporada em quesitos técnicos. Ambientação de cenários única e bem feita. Cada episódio tinha ao menos uma cena onde dava aquela vontade de pausar e ficar só admirando de tão lindo que estava (destaque para Cavaleiros da Luz). Algumas das melhores batalhas com o Voltron estão aqui. A trilha sonora evoca a emoção certa e casa perfeitamente com o visual. Tudo beirando à perfeição.

Encerrar todos os plots deixados ao longo da série em apenas 13 episódios de 23 minutos de maneira satisfatória e entregar um series finale que agradasse todo mundo eram coisas difíceis, logo tratar histórias que levassem à batalha final contra Honerva, fechar o arco maior da série, é uma escolha viável.

Ainda assim, algumas histórias foram abandonadas no meio do caminho ou poderiam ter sido melhor desenvolvidas, além do uso de muitas conveniências de roteiro. Entretanto, estou contente com tudo que vi. E, como eu falei no outro texto, valeu muito a pena passar por tudo isso.

VERSÃO COMPLETA COM SPOILERS


O amor está no ar, e não tem muito o que fazer quanto a isso

Encontro Romântico mostra o último dia dos Paladinos na Terra e o motivo de nossos protagonistas estarem indo pro espaço mais uma vez: estabelecer a paz no universo integrando os Galra à Coalizão Voltron, que estão em desordem depois da morte do Sendak no finale da temporada anterior, plot que é jogado para escanteio depois de dois episódios, quando Honerva desponta como a ameaça maior, a nova prioridade máxima.

Outro destaque dessa premiere é o estabelecimento de Lance e Allura como um casal. Não é forçado, já que a dinâmica entre eles mudou muito a partir da 3ª temporada, é fofo até, Lance é um ótimo namorado, sempre demonstrando atenção, preocupação e empatia para/com Allura, mas engata rapidamente. Uma abordagem mais gradual teria sido melhor, apesar das circunstâncias onde ambos estavam não eram as melhores.

As intenções de Honerva se encaixam na condição de que o vilão é o herói de sua própria história. Sombras, seu episódio próprio, mostra isso. Ela está em busca de seu próprio final feliz. Ela quer o filho. Ela quer Lotor de volta em sua vida depois de 10 mil anos sem memória, servindo como fantoche do Zarkon e, ainda que não soubesse, ajudando-o a maltratar Lotor, nessa relação com um abusivo, porém, corrompido pai, nem que ela tenha que varrer raças, planetas e realidades da existência para conseguir isso. É algo pessoal. Por isso que ela é crível. Por isso que ela é perigosa.

A jornada é o que conta


Sempre assine o seu trabalho, mesmo que seja uma armadilha

O Dilema do Prisioneiro (3º), Marcas de Guerra (4º) e Sede de Vingança (5º) me deram uma vibe das duas primeiras temporadas, quando tínhamos episódios auto-contidos, focados somente em um único acontecimento e a história maior não andava muito. Por causa disso que a presença desses três me incomodou levemente porque a trama parecia não andar e me fez levantar mais algumas perguntas sem respostas, apesar de ainda serem válidos pelos minutos finais, que são necessários para entender o que está por vir.

Estamos falando de temporada final. A necessidade da trama andar é maior ainda, o que Gênesis, o sexto episódio, faz com primor ao mostrar o primeiro encontro direto entre mocinhos e vilões e aumentar o nível de perigosidade da vilã, agora capaz de absorver energia de galáxias inteiras, tudo em prol de trazer Lotor do campo de quintessência onde esteve preso por duas temporadas. A sensação de derrota por tal acontecimento influencia diretamente o que acontece com Allura de agora em diante.

É uma tradição da série colocar fillers antes de grandes arcos. Dia 47 cumpre bem a função. Ele é engraçado, o formato de found-footage/documentário/daily vlog é diferente, Ryan e Nadia (que roubam o maior parte do tempo do episódio) têm uma dinâmica interessante por terem personalidades opostas e ideias diferentes sobre o que querem registrar e vários secundários tiveram tempo significativo (destaque para Collen e Slav). Assim como nos anteriores, nos minutos finais, prepara o terreno para os episódios seguintes, que, pessoalmente, não só são os melhores da temporada, como figuram entre os melhores da série inteira.

Apertando o passo


Cavaleiros da Luz inteiro só tem cena linda
A Comemoração era o tipo de episódio que eu esperava ver mais ao longo da temporada. É o equilíbrio perfeito entre desenvolvimento da trama geral e interações entre os protagonistas. Foi um dos poucos onde senti maior atenção do roteiro aos principais traços de personalidade de cada um dos personagens e os lanços existentes entre eles. Em termos de história, Allura sentir-se tentada e posteriormente absorver uma entidade conectada diretamente à vilã da temporada é um reflexo do que aconteceu em Gênesis e manifestar essa paranoia através de ilusões é mais sombrio e propositalmente contrasta diretamente o clima festivo onde está o resto da equipe.

Cavaleiros Da Luz - Partes 1 e 2 executa de maneira excelente a proposta de entrar na mente de Honerva pela consciência coletiva do Defensor Lendário através da entidade para saber de seus planos (no melhor estilo A Origem), que por si só já não é muito "fora dos caixinha", e justifica a presença dos 5 paladinos predecessores como espíritos corrompidos.

Fora isso, ver Allura indo pro "lado negro da força" ao torturar um Zarkon não-corrompido com tudo que "ele" fez durante 10 mil anos e ver ele chorando após tudo isso faz dessa uma das mais sombrias e emocionalmente carregadas da série inteira, além de trazer redenção ao primeiro vilão da série. Podemos culpar a entidade por tal ato, mas ver a Allura "corrompendo-se", mesmo que por apenas esse par de episódios, é impactante por ir de encontro à tudo que conhecemos sobre a personagem.

O TEAM-UP QUE EU PEDI PRA DEUS E EU CONSEGUI!

Depois de darem uma de Leonardo deCaprio e Ellen Page na mente de uma vilã, nada mais esperado do que ela colocar seu plano de conseguir seu final feliz em ação. Territórios Desconhecidos (11º) e O Ponto Mais Alto (12º), os responsáveis para preparar o terreno para o episódio final, fazem isso de maneira acelerada, o que é bom e ruim, diga-se de passagem, onde várias coisas acontecem seguida e simultaneamente, utilizando-se de muitas conveniências de roteiro para que ele chegue aonde ele quer chegar, mas a ação nunca para de acontecer.

Em um espaço de quase 30 minutos tivemos conversas motivacionais, fuga da prisão, lutas de robôs, piadas sobre o efeito borboleta (não tenho certeza?), abertura de portais, invasão, traição, morte, fusão dos robôs da Honerva e do Lotor, fusão do Voltron e da Atlas (foi uma justificativa para que o Shiro estivesse presente na batalha final e eu estou muito feliz com isso), os Galra aparecendo sob o comando de Krolia e Kolivan para ajudar a manter a fenda aberta junto com os balmeranos (oi Shay), perseguição entre dimensões, destruição de múltiplas realidades paralelas...

O único momento de "paz" são os 5 minutos que Honerva tem com seu final feliz ao encontrar uma realidade com um Zarkon carinhoso, um Sendak feliz e um Lotor que não parecia ter 10 anos mas inteligente o suficiente para saber que aquela não era sua mãe. E quando alguém perde seu final feliz, tal alguém se torna mais irracional. Um ou dois episódios adicionais nessa reta final teria sido melhor para desenvolver e explicar algumas coisas que aconteceram aqui, mas... senhoras e senhores, sejam bem vindos ao series finale.

Daqui para a eternidade


Chorando com essa imagem? Sim. Muito? COM CERTEZA! 
A batalha final dura praticamente um terço do episódio e logo evolui a perigosidade de Honerva para destruir seu maior inimigo e eliminar toda a existência. É o já esperado clichê do vilão megalomaníaco e, infelizmente, não figura entre as melhores batalhas entre mechas da série. Ela é boa, tem grandes momentos de epicidade, mas não parece ser muito inspirada.

O segundo ato centra-se no sacrifício de Allura. Desde a primeira temporada que vemos ocasiões onde a Allura abertamente mostra estar disposta a se sacrificar para o bem maior, é uma característica marcante dela, logo é cabível a escolha aqui. Mas ela passou por tanta coisa que merecia um final feliz. Eu realmente esperava um final onde todos estariam vivos, juntos e felizes, principalmente quando voltamos para a realidade principal e descobrimos uma nova Altea, planeta natal da princesa destruído 10 mil anos atrás.

As despedidas individuais da personagem a cada um dos paladinos é bem executada e emocionalmente impactante para ela e para o espectador por reafirmar aquilo que ela (e nós) mais admirava em cada um deles. E, apesar de ter demonstrado seu afeto pelo Paladino do Leão Vermelho de outras maneiras ao longo dos 12 episódios anteriores, pela primeira e última vez, Allura disse "Eu te amo" para o Lance. LÁGRIMAS.

A série começou com 5 humanos encontrando seus leões.
A série termina com os mesmos 5 humanos dando adeus a seus leões.
O ciclo se fecha.

O ato final se passa um ano depois e continua a carga emocional do ato anterior com um pequeno demonstrativo da vida de cada um dos 6 restantes agora que os universos não precisam precisam mais do Voltron. Embalada pela música que espero que você esteja ouvindo, a sequência do jantar embaixo da estátua da Allura + os leões se despedindo de seus paladinos originais, referenciando a formação inicial (imagem acima) + o epílogo/nova vida feliz de cada um deles me puseram um sorriso no meio de mais lágrimas.

Lauren Montgomery e Joaquim Dos Santos (criadores e showrunners da série e escritores do finale) foram corajosos ao não reverterem magicamente a morte de Allura na sequência final e não darem ao público a temporada final que talvez todo mundo estava esperando, apesar de que, em nenhum momento, eles se viram (nem deveriam se ver) obrigados a contar uma história diferente daquela que eles planejaram para agradar os fãs.

Uma joia no meio da Netflix


Honestamente, essa crítica foi uma das coisas mais complicadas que eu já escrevi. Procurar opiniões parecidas e contrárias internet afora para afirmar e reafirmar a minha própria posição foi algo árduo, cansativo e, definitivamente, um erro, já que a comunidade de fãs série é comumente listada como uma das mais tóxicas. Me deixei influenciar e muitas vezes mudei de opinião sobre certas coisas, o que não deveria ter ocorrido e por isso eu peço minhas sinceras desculpas.

É complicado. O show é complicado. A vida em si é complicada. Agora devemos seguir em frente ou ficar aqui e ver o que acontece. De todo jeito, este é o fim. Um bom/ótimo fim. Poderia ter sido épico, mas isso não invalida a experiência oferecida em sua totalidade. A quem interessar, no Instagram do GeekBlast, tem um especial com minhas reações individuais a cada episódio (e uma foto minha chorando depois do finale).

Voltron Legendary Defender se despede reafirmando sua posição como uma das melhoras animações originais da Netflix e que merece mais reconhecimento. Honestamente, não vejo a hora de assistir tudo de novo e, certamente, eu nunca vou me cansar de dizer que foi uma honra voar com todos eles.

"Voltron não se foi.
Voltron está dentro de todo e cada um de nós.
Estamos ligados a ele assim como estamos ligados um ao outro." 

Escreve para o GeekBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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