Cinema

Crítica: Ilha dos Cachorros e as referências aos governos corruptos

Wes Anderson acerta em tocar num assunto sensível para regimes governamentais

Em Ilha dos Cachorros, uma doença está infectando todos os cachorros da cidade de Megasaki. Em uma atitude extrema, o prefeito Kobayashi aprova um decreto em que todos os cachorros sejam exilados em uma ilha que recebe todo o lixo da cidade. O garoto Atari Kobayashi, determinado em encontrar seu antigo amigo Spots, rouba um avião e parte em busca de seu mais fiel companheiro.


Existem muitas camadas nos trabalhos de Wes Anderson e neste não é diferente. O filme é sarcástico, irônico e pode arrancar risadas do público, mas o que me chamou atenção foi o bê-á-bá da ascensão e queda de um regime fascista.

O roteiro é feliz em balancear humor, diálogos inusitados e temas carregados na mesma história. Quando um personagem abre a boca é difícil prever o que ele vai falar, principalmente os cachorros. As narrações e o recurso utilizado por Wes Anderson no conflito entre as duas línguas faladas no filme (no original japonês e inglês) trazem leveza à história, mas é preciso estar atento aos flashbacks para não se perder.

A identidade do diretor impressa no filme é tão marcante que é quase tangível. Isto se traduz no roteiro, mas principalmente na parceria com o diretor de fotografia Tristan Oliver. Na verdade esta é a segunda colaboração entre os diretores, a primeira vem de o Fantástico Sr. Raposo (2009). Oliver é um especialista na fotografia de filmes stop motion, tendo trabalhado em A Fuga das Galinhas (2000) e Wallace & Gromit - A Batalha dos Vegetais (2005).

Os planos perfeitamente simétricos, os movimentos de câmera que se unem ao cenário, uma linguagem quase teatral (numa relação da visão do espectador ao palco); tudo isto nos lembra como é agradável ver um trabalho de Wes Anderson.

Os personagens são peças importantes para o resultado do longa, não só na obviedade dessa afirmação, mas no poder simbólico que cada um carrega.

O prefeito Kobayashi é o rosto de um governo tirano e o resultado de um sistema político corrompido; Tracy Walker, a estudante de intercambio, representa a opinião pública de países estrangeiros e a importância do jornalismo para a sociedade; Atari Kobayashi é o germe da revolução, uma ideia, uma existência capaz de contaminar uma população adormecida por um regime estatal.


Apesar de utilizar um gênero (animação) supostamente usado para atingir públicos infantis e situações cômicas em muitas cenas, Ilha dos Cachorros é importante para o cenário social atual (na verdade, para toda a história). Wes Anderson acertou mais uma vez.

Ilha dos Cachorros estreia dia 19 de julho e você pode assistir no Caixas Belas Artes.

Ficha Técnica


Nome: Ilha dos Cachorros
Nome Original: Isle of Dogs
Origem: Alemanha/EUA
Ano de produção: 2018
Lançamento: 19 de julho de 2018
Gênero: Animação, Aventura, Comédia, Drama, Fantasia
Classificação: 12 anos
Direção: Wes Anderson
Elenco (vozes):  Bryan Cranston, Koyu Rankin, Edward Norton, Bob Balaban, Bill Murray, Jeff Goldblum, Greta Gerwig, Scarlett Johansson, Yoko Ono.


É Radialista e nas produções cinematográficas sempre está envolvido na arte. Tem em Pokémon e em Star Wars suas lembranças vivas da infância.


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