Enredo simples e direto
Fullmetal Alchemist é conhecido principalmente pela complexidade de sua história, a qual se passa em um mundo onde o uso da alquimia é considerado algo comum, sendo que para obter uma determinada coisa é necessário oferecer outra de mesmo valor. O enredo se inicia após os pequenos irmãos Elric perderem sua mãe e decidirem ressuscitá-la através da transmutação humana (o maior tabu da alquimia). Nesse processo Alphonse (vóz de Atomu Mizuishi) acaba perdendo seu corpo e Edward (Ryosuke Yamada) perde uma de suas pernas, dando seu braço em sacrifício para manter a alma de Alphonse presa a uma armadura. Daí se inicia a jornada de ambos para encontrarem a pedra filosofal, um artefato capaz de ajudá-los a terem seus corpos de volta.
Para quem já conhece os animes e o mangá, o filme adapta o primeiro arco da história até os eventos recorrentes no 5º laboratório, tudo em uma abordagem mais simples e rápida com alguns momentos memoráveis da obra original, como o desfecho de Shou Tucker (Yo Oizumi) com sua família e a luta entre Roy Mustang (Dean Fujioka) e Lust (Yasuko Matsuyuki). A fotografia do filme está excelente e consegue transmitir a ideia que de fato você está em Amestris, com direito até a clássica cena do trem passando pelos campos de Resembool. Enquanto alguns podem ter a impressão de um enredo muito corrido, sua narrativa acontece de modo bem dosado, tendo um bom balanceamento entre horas de ação e diálogos “longos”, fora que a produção soube entregar ótimos momentos que realmente remetem a maravilhosa atmosfera do que é Fullmetal Alchemist.
Efeitos especiais dentro do que é possível
Sendo um filme de baixo orçamento, não espere efeitos especiais majestosos no mesmo naipe de obras hollywoodianas. Para o pouco que tiveram de se virar, o filme conseguiu fazer um bom uso do CGI e, mesmo que em determinados momentos estes pareçam estarem muito superficiais ou até mesmo relembrando algumas "tosquisses" das produções dos anos 80 e 90, podem facilmente serem relevados em suas falhas. Destaque especial para o personagem Alphonse que consegue te transmitir muito bem que é uma armadura real na maior parte do tempo e não apenas um boneco em 3D.
Como o filme não poderia reproduzir de forma primorosa alguns momentos fantasiosos do anime, Sori e sua equipe de produção optaram por apresentar alguns momentos singulares de modo diferente sem que isso afetasse a ideia mostrada na obra original. Um bom exemplo disso pode ser visto no início do filme, quando Ed e Al estão realizando a transmutação humana, que embora exibido de forma diferente do anime consegue manter a essência dele.
Personagens caricaturados
Enfim chegamos ao nosso ponto mais polêmico. Enquanto muitos reclamam da presença de whitewashing nos filmes, o que mais chamou a atenção do público aqui é justamente a falta dele, dado que Fullmetal é uma obra em que seus personagens e ambientação tem fortes traços europeus (basta ver os protagonistas que são brancos e louros, uma etnia muito próxima dos alemães). Ao invés disso decidiram utilizar um aplique de coloração amarelada no cabelo do Yamada para deixa-lo mais parecido com o Ed Elric (graças a Deus não fizeram o mesmo com a Tsubasa Honda, atriz que interpreta Winry Rockbell). Em sua defesa Sori diz ter selecionado um elenco japonês visto que boa parte dos costumes dos personagens são bem mais próximos do oriental, o que ainda incomoda em outra questão: caricaturação de expressões.
Apesar da boa caracterização dos personagens, que transmitem com fidelidade o figurino de cada um, as interpretações feitas pelos atores por vezes são bastante exageradas (para não dizer desnecessárias). Pelo fato de ser um elenco composto por orientais, os quais buscam apresentar uma atuação bem “caras e bocas”, suas performances em certos pontos são bem estranhas e escandalosas, pois se imaginam realizando as mesmas expressões de um personagem de anime (o que não acaba nem um pouco convincente para um filme com pessoas reais).
Algumas interpretações também não são muito convincentes como as de Ed e Winry (sem dúvida foram os que o pessoal mais torceram o nariz), pois descaracterizaram um pouco a forma como os personagens são. Já outros como Roy Mustang, Riza Hawkeye (Misako Renbutsu) e Moes Hughes (Ryuta Sato) foram muito bem representados e convincentes em todos os seus momentos. Certamente muitos sentiram falta de alguns personagens importantes, contudo Fullmetal Alchemist tem uma gama muito grande de personagens e para um filme com duas horas de duração, é bem mais sensato explorar poucos personagens trabalhando a relação entre estes, tendo Ed, Al e Winry como protagonistas e os homunculos Lust, Envy e Gluttony como principais vilões.
Conclusão
Entre pontos bons e ruins, Fullmetal Alchemist está muito distante de ser uma adaptação bem executada como Samurai X e Gantz, mas também passa longe (e bota longe nisso) de atrocidades como Death Note e Dragon Ball Evolution. Talvez possa parecer fraco para fãs do mangá e animes, porém é um filme que não te fará dizer “acabei de desperdiçar duas horas da minha vida” pois tem uma trama bem construída e momentos memoráveis. Não é uma das melhores obras feita com baixo orçamento, mas com certeza é “assistível” e vale suas horinhas gastas como um bom passatempo.
Ficha Técnica
Nome: Fullmetal Alchemist
Nome Original: Fullmetal Alchemist
Origem: Japão
Ano de produção: 2017
Lançamento: 1º de Dezembro de 2017 (19 de Fevereiro de 2018 na Netflix)
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Classificação: 12 anos
Tempo de duração: 135 minutos
Direção: Fumihiko Sori
Elenco: Ryosuke Yamada, Tsubasa Honda, Dean Fujioka, Ryuta Sato, Jun Kunimura, Fumiyo Kohinata, Yasuko Matsuyuki