Nesta terça-feira ocorreu no shopping Eldorado uma sessão especial de Pantera Negra, organizado pela rede Negras Empoderadas. O evento, além de uma celebração da comunidade negra, foi também uma forma de problematizar a representação e a representatividade negra no audiovisual, bem como o acesso desta parte da população aos bens culturais.
Uma das organizadoras, a advogada Mayara Silva de Souza de 25 anos, disse que a ideia das sessões de cinema especiais para celebração surgiram quando ela assistiu Estrelas Além do Tempo e sentiu vontade de compartilhar o sentimento de representação que sentiu e colocou no Facebook e descobriu várias pessoas com o mesmo sentimento que ela. Desde então já foram três sessões e vários outros eventos, até mesmo um piquenique.
Entre as participantes do evento haviam várias senhoras e elas foram preparadas para ver o filme. Os filhos já inseridos no mundo dos super-heróis avisaram sobre os filmes anteriores e uma delas até comentou que assiste todos com o filho e que ele é fã tanto da Marvel quanto da DC.
Uma das organizadoras, Cristiane Guterres, teve a ideia de levar crianças carentes para assistir ao filme:
"A ideia de trazer as crianças é porque eu tenho uma noção do quanto é importante ver que a gente pode ser o que a gente quiser sendo negro. A mídia criou um padrão onde negros só podem ser, no cinema e na televisão, ladrões, escravos ou empregados domésticos ou serviçais e a gente sabe dessa importância."
O evento contou com mais de 300 pessoas e lotou a sala de cinema. Antes da sessão aconteceram sorteios com produtos dos patrocinadores e apoiadores do evento. A poetisa Débora Garcia deu uma palhinha e puxou um conto para as negras empoderadas, além de mostrar um clipe. A atriz Maria Gal fez um breve monólogo sobre a representatividade no audiovisual, onde destacou o desafio de ser atriz negra no Brasil.
Durante a sessão o inicio foi um silêncio total. Conforme o filme foi se desenvolvendo começaram as manifestações, a sala toda torcendo junto por T'Challa, vibrando com as frases poderosas de Okoye, a general das Dora Milaje, e tirando muito sarro das patadas recebidas pelo agente Ross na presença de M'Baku.
A torcida e vibração durante a luta final lembrou o filme Creed, também protagonizado por Michael B. Jordan, ator afro-americano e que frequentemente trabalha com Ryan Coogler, diretor de ambos. O público que assistiu a pré-estreia de Creed durante a CCXP 2015 se envolveu com a história. Mas não foi só um envolvimento. A platéia, majoritariamente composta por mulheres, estava torcendo não só pelo Pantera Negra, mas ainda mais pelas mulheres. A cena em que Okoye desafia seu amado W'Kabi foi ovacionada e, ao cair de joelhos para ela, o público deu um grito digno de gol do Brasil em jogo contra a Argentina.
Interessante ver como essas mulheres se identificaram. Uma das meninas convidadas até se empolgou com o casal principal.
Apesar de ser uma produção norte-americana, as organizadoras do evento acreditam que o filme pode inspirar as crianças que se viram representadas e assim elas podem perceber que podem ser o que quiserem independente do que os outros digam.