Livros

Crítica: Suicidas - Raphael Montes

Obra digna de adaptação para as telonas (ou, quem sabe, telinhas - Olá, Netflix)


Nove jovens em um porão. Uma arma e 9 munições. Uma brincadeira: roleta-russa. O que levaria os jovens adultos do Rio de Janeiro a cometer um jogo sem limites, pudores e sem final feliz? É exatamente disso que a obra prima do gênero policial nacional Suicidas aborda.

Raphael Montes já é conhecido do público brasileiro. O carioca é um autor premiado internacionalmente e autor de best-sellers como Dias Perfeitos e O vilarejo. A escrita leve e as descrições despreocupadas dos cenários através de personagens bem estruturados é a marca pessoal de Montes. Com maestria, ele invoca emoções e sentimentos ambíguos através dos olhares (muitas vezes) conflitantes de seus personagens. Suicidas, apesar de escrito em primeira pessoa, usa e abusa desta característica, levando o leitor a parar e pensar: quem está certo aqui?


Logo no início do livro somos apresentados a Diana, delegada do Departamento de Polícia do Rio de Janeiro. Ela reúne a mãe dos jovens suicidas - crime brutal que chocou todo o Brasil há um ano. Com revelações e novas pistas em torno do que teria estimulado os jovens a brincarem de roleta-russa, a polícia acredita que pode conseguir mais informações e tentar, de uma vez por todas, colocar fim na mal explicada história que culminou no fim de várias vidas.

Neste cenário somos apresentados a Alessandro. Ele é a peça central da investigação, já que diários dele foram encontrados em revista minuciosa no porão onde a roleta-russa ocorreu. Através das narrações e descrições do jovem é que podemos saber o que realmente aconteceu aos nove jovens. Em capítulos intercalados somos apresentados ao cotidiano de Alessandro com seus amigos - os suicidas - e também em relato sobre o que ocorrera no fatídico dia do suicídio coletivo.


Através de Alessandro, Raphael Montes consegue montar um personagem extremamente real, que trás dentro de si coisas boas e ruins. Não há vilões ou heróis na trama. Todos ali possuem o melhor e o pior da sociedade dentro de si. Os diários de Alessandro revelam isso. Os relatos do cotidiano demonstram um jovem quase tímido e de boa índole, enquanto as descrições do dia do suicídio demonstram falta de empatia e respeito ao ser humano. Não só por Alessandro, mas por todos os nove personagens principais da trama envolvente.

Um fato curioso presente no livro é a descrição de Alessandro como aspirante a autor. O personagem cita uma pequena frase que revela como é o primeiro romance que escreveu e deixa escapar o título: Dias Perfeitos. Vale lembrar que Raphael Montes, após Suicidas, lançou um livro chamado Dias Perfeitos, o que demonstra a inteligência e organização do autor não só na construção dos livros, mas também no planejamento da brilhante carreira como autor do gênero policial no Brasil.

 Como é de se esperar do autor, Suicidas está repleto de reviravoltas surpreendentes e um suspense presente em todas as mais de 470 páginas - que prende o leitor do começo ao fim. O livro foi lançado pela editora Benvirá em 2012 e, até os dias atuais, é destaque no cenário nacional.

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