O filme começa com a cena repetida várias vezes no trailer: Dennis, uma das 23 personalidades que habitam a mente de Kevin (McAvoy), sequestra três garotas num estacionamento de shopping e as prende em um porão, apenas com duas camas e um banheiro.
Não fosse a atuação genial de McAvoy, o primeiro ato do filme poderia ser apenas mais um filme de terror, que tem até mesmo clichês como garotas bonitas e recém saídas da adolescência com poucas roupas (e com atuações relativamente fracas) e uma protagonista "diferentona" por quem sabemos que vamos torcer.
Dito isso, é necessário se curvar à habilidade de Shyamalan: o diretor quebra essa sensação de repetição com um visual claustrofóbico, mas pouco forçado, que faria o espectador mais relaxado roer as unhas, além de uma sub-trama chocante e nauseante para Casey (interpretada à perfeição por Anya Taylor-Joy), nossa já citada protagonista.
Kevin/Dennis (McAvoy) e Casey (Taylor-Joy): protagonistas geniais |
No decorrer da história, entendemos, por meio da psiquiatra de Kevin, Karen Fletcher (Betty Buckley), que os vários personagens que vemos McAvoy incorporar são resultado de seu Distúrbio Dissociativo de Identidade (DDI) e que três personalidades, conhecidas como "a Horda" pelas outras 20, tomaram o corpo do homem e passaram a isolar as outras da "luz", ou o controle da mente de Kevin.
Dennis, o raptor das meninas, é um homem forte que sofre de Transtorno Obsessivo Compulsivo. Já Hedwig é um garoto de 9 anos que consegue assumir a luz sempre que lhe convém. Os dois respondem a Patricia, uma fanática religiosa extremamente perigosa, que prega adoração uma 24ª personalidade, desconhecida pela dra. Fletcher e pelas outras personalidades, "a Besta", que consumirá as garotas em cativeiro.
Sendo a personalidade que for, James McAvoy faz sua melhor atuação no cinema, transmitindo com um simples olhar a mente que incorpora em cada cena. Sua interação com a dra. Fletcher, que recebia pedidos de ajuda das outras personalidades, é um dos pontos de tensão mais agudos do filme, com uma personalidade tentando tomar o lugar da outra ao longo do diálogo.
O filme em si passa por diversos gêneros. Shyamalan faz com que a história flua naturalmente do suspense para o terror e do terror para o sobrenatural, com duas horas tensas de um dos melhores thrillers psicológicos dos últimos anos.
Dennis, Patricia, Hedwig, Barry e Kevin: o melhor papel de James McAvoy |
A medida que a trama avança, começamos a aprender mais sobre Kevin e seu distúrbio e, em alguns momentos, uma simpatia cresce pelos protagonistas presos no mesmo corpo, ao compreendermos como cada uma dessas personalidades nasceu e tudo o que elas têm de diferente entre si, algo que foi estudado por anos por Shyamalan, que embasou todo o seu roteiro e direção em pesquisas reais feitas por inúmeros psiquiatras ao redor do mundo.
Apesar de esbarrar em alguns clichês já citados dos gêneros cinematográficos, Fragmentado é um marco de renovação para Shyamalan, que volta a agradar crítica e público, 15 anos depois do seu último grande filme. Com interpretações inspiradíssimas de seus protagonistas e um desfecho que fez a sala aplaudir de pé, o filme dá novo fôlego e prestígio para o diretor, que deve voltar à mesma força que tinha no começo da década.
Ficha Técnica
Nome: FragmentadoNome Original: Split
Origem: EUA
Ano de produção: 2016
Lançamento: 23 de março de 2017
Gênero: Suspense
Classificação: 14 anos
Direção: M. Night Shyamalan
Elenco: James McAvoy, Anya Taylor-Joy, Betty Buckley, Haley Lu Richardson, Jessica Sula