Em 2013 Ang Lee já dava indícios de que a indústria chinesa iria superar os rendimentos de Hollywood lá por 2020. Se a profecia irá se cumprir não é uma realidade, mas é notável o fato de que as produções orientais estão cada vez mais rebuscadas. Apesar de buscarem um apelo global, para o Departamento de Propaganda do Comitê Central do Partido Comunista Chinês, é esperado que um filme exerça várias funções, inclusive transmitir valores socialistas e nacionalistas, sua difusão acaba dificultada.
É possível ver, através das indicações ao Oscar, que o cenário começou a mudar na década de 90, mas foi em 2001 que a indústria chinesa ganhou a merecida evidência: o filme de Ang Lee, O Tigre e o Dragão, ganhador do Oscar nas categorias de melhor filme estrangeiro, melhor fotografia, melhor direção de arte e melhor trilha sonora em 2001.
É interessante perceber o conflito de cultura quando, do alto dos meus treze anos, lembro das pessoas que aceitavam tão bem ver o Superman cruzar os céus, questionarem o filme ter personagens que voavam. Para ocidentais pouco acostumados com a cultura e filosofia oriental, nem sempre os princípios explicitados no filme faziam sentido. O cuidado empregado na produção, entretanto, chamava a atenção até dos mais leigos.
Estas são as premissas básicas do gênero Wuxia: narrativas épicas, protagonizadas por mulheres, com personagens de espírito livre que dominam técnicas de artes marciais, lutas teatrais e uma trama envolvendo honra, intriga, romance e sacrifício.
Convém ressaltar que, como uma apreciadora de filmes de artes marciais, neste primeiro contato com uma produção chinesa de grande porte, o que chamou a atenção foi a presença de mulheres como personagens ativas, com opiniões e aspirações próprias, não sendo forçadamente bobas ou desastradas e, sobretudo, não sendo satélites de um suposto herói.
Puxando esta discussão da presença feminina no cinema, é bom atentar que mesmo depois de filmes como Alien, Kill Bill, Menina de Ouro, Salt e tantos outros, sempre tem alguém achando que protagonistas mulheres estragam a história (?!?). Uma prova disto são as críticas esta nova versão de caça-fantasmas recebeu antes do lançamento unicamente pela equipe ser composta de mulheres.
Enfim, é sempre bom rever a opinião e aproveitar estas produções com o melhor que este estilo pode oferecer:
O Tigre e o Dragão (2000) – Ang Lee
A trama começa quando o mestre em artes marciais Li Mu Bai decide retirar-se dos combates e aposentar sua espada, a Destino Verde, uma arma de 400 anos que não perde o fio. O desenrolar da história acompanha Jade Fox, a assassina do mestre de Li Mu Bai, a revolta Shen Yu, a filha de um nobre que desafia o destino que lhe foi imposto e Shu Lien, a mulher por quem Li Mu Bai é apaixonado e que, no entanto, não pode demonstrar afeto.O Clã das Adagas Voadoras (2004) - Zhang Yimou
A história se passa durante a dinastia Tang, em decadência e incapaz de conter rebeliões. O enredo se desenvolve em torno de um triângulo amoroso, onde dois oficiais são incumbidos de destruir um clã e para isto se envolvem com um de seus membros, Mei.Hua Mulan (2009) - Jingle Ma
Baseado num poema do século VI, intitulado A Balada de Mulan, este filme se passa em 450 d.C., quando a China é invadida e o Imperador decreta que cada família ceda um homem para o exército. Neste cenário encontramos Mulan, que para proteger seu pai debilitado, assume o lugar deste, disfarçando-se de homem.A Assassina (2015) - Hsiao-Hsien Hou
Dos filmes aqui citados, devido às peculiaridades de enfoque e produção, este é o mais distinto. A trama se passa na China do século VIII, contando a história de Ynniang, que para completar seu treinamento de assassina precisa aprender a não ter piedade. Para isto, ela é enviada para matar o governador de uma província, seu primo.O Tigre e o Dragão: A Espada do Destino (2016) - Woo-Ping Yuen
Nesta sequência produzida pelo Netflix (confira nossa crítica aqui), a história se passa anos depois dos acontecimentos de O Tigre e o Dragão, Shu Lien tem mais uma vez sua história entrelaçada à espada Destino Verde.Nota: Caso interesse, o blog Anotações de um Cinéfilo fez uma lista recomendando 100 filmes de Hong Kong, vale a pena dar uma olhada.
Fontes: