Boku dake ga Inai Machi é, assim de cara, o anime que eu precisava assistir em 2016. Série complexa, adaptada de um manga igualmente bem recebido pelo público, com enredo forte e personagens carismáticos, ERASED (como também é conhecido), tem tudo para ser o melhor anime de 2016.
A pequena sinopse envolve apresentar os personagens e o problema. A grande sinopse, permite-me avançar algumas enrolações e partir para o que realmente importa. Boku Dake ga Inai Machi traz a história de Fujinuma Satoru, um jovem adulto, na faixa de seus 25 anos, com uma vida medíocre, sem nada de especial. Trabalha fazendo entregas para um restaurante. Mesmo com esforço e dedicação, seu salário é pequeno e insatisfatório. O que torna Satoru alguém especial, porém, é o seu poder: Revival. Satoru tem, em alguns momentos de sua vida, visões que o permitem uma premonição de algo ruim que irá acontecer no futuro. Quando a visão acaba, ele volta ao passado, para poder impedir a tragédia (nem sempre da melhor maneira possível).
Porém um dia, quando sua mãe é assassinada pelo mesmo criminoso, que 18 atrás, sequestrou e matou a colega de turma de Satoru, Hanazuki Kayo, o rapaz é mandado para um passado muito mais distante do qual o Revival costumava enviá-lo. Satoru se encontra, então, 18 anos mais novo. Criança, no colégio, com seus antigos amigos de infância, seus professores e sua mãe, viva novamente. Cabe a ele impedir que o futuro se repita: descobrir quem é, e impedir o criminoso, é sua missão nessa viagem pelo tempo para salvar não só sua mãe, mas todas as crianças mortas no caso que nunca foi totalmente resolvido pela polícia.
Cria-se então, um enredo diferenciado. Não é apenas a história de um adulto preso no corpo de uma criança, já vimos isso antes. A história vai além: é um adulto voltando ao passado para tentar impedir crimes que atormentaram toda a sua vida.
Satoru como criança é uma experiência ímpar para quem assiste a série: em algum momento de sua vida, você já deve ter imaginado como seria se tornar criança novamente e poder fazer as coisas de maneiras diferentes. Satoru é a representação dessa ideia. Não só impedir um assassinato, ou um sequestro, mas mudar a maneira como "a criança" se relacionava com as pessoas ao seu redor. Por muitas vezes na série, a mãe de Satoru estranha o amadurecimento de seu filho, mas aceita. Satoru, por sua vez, não se esforça em "ser criança" tanto quanto agir como uma. Traz de sua vida adulta, características como "dizer o que pensa" ou enfrentar o julgamento dos adultos
Satoru é a criança que nossos pais viviam pedindo a Deus |
Surge então outro ponto muito agradável da série: a relação de Kayo e Satoru. O protagonista, após se relacionar ainda mais com Kayo, cria laços com a garota, que não teve na sua "primeira" infância. Uma forte amizade, aos poucos evoluída em paixão. Mas não qualquer paixão: sua primeira paixão. Ainda que se trate de um adulto aos poucos se apaixonando por uma criança (fato que o próprio personagem acha estranho em sua personalidade), são, sem dúvida, duas crianças dividindo um ambiente hostil, marcado pela violência, tanto urbana quanto doméstica. Kayo é vítima de abuso infantil por parte de sua mãe. Satoru está lá para ajudá-la, para impedir que a mulher continue as agressões. A relação entre os dois logo se torna forte e indestrutível.
Kayo e Satoru formam o casal mais complexo em animes dos últimos anos |
Após perambular pelo passado, Satoru é mandado de volta ao futuro/presente. Suas percepções são outras, seu conflito interno é o mesmo: suas ações não foram suficientes para impedir a morte de sua mãe e o assassino continua solto, caçando todos que possam identificá-lo. Satoru adulto é outra presença forte no enredo. Fugitivo da polícia, suspeito de matar a própria mãe, Satoru encontra alianças e faz planos para reverter a situação. Com a confirmação de que Satoru conseguiu, pelo menos, mudar algumas coisas do passado, ele passa a planejar maneiras ainda mais eficientes para impedir a tragédia de se repetir.
Quando o sistema não confia na sua palavra, Satoru só pode confiar em si mesmo |
O enredo da série é bem complexo e cheio de dúvidas, a identidade do assassino sendo a principal delas. As perguntas vão sendo respondidas em progressão. A história avança com uma rapidez sólida: não muito rápida e nem muito enrolada. Somam-se a isso, a animação perfeita do A-1 Pictures, uma trilha sonora envolvente e atmosférica, finalizando com uma reunião de personagens palpáveis e carismáticos.
Boku Dake ga Inai Machi é uma comovente história sobre as consequências da viagem no tempo. Não tão complexa e envolvente como a história de Steins:Gate (na minha humilde opinião, o melhor anime já feito), mas uma série promissora, que ainda tem seis semanas, nessa temporada de Winter/Verão, para se consolidar como um anime inovador e comprometido com a alta qualidade.