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Crítica: "Armada" é uma mistura leve e carismática de aventura e sci-fi

O mais novo livro de Ernest Cline é uma mistura convidativa de aventura, sci-fi e ação, no mesmo bom tom de O Jogador Nº1.


Ernest Cline, um dos maiores entusiastas de games e cultura nerd da atualidade, ganhou o mundo com seu primeiro livro em 2011, Ready Player One, que chegou ao Brasil somente um ano depois com o nome O Jogador Nº1. O traço mais marcante de sua história na época era a quantidade incrível de easter eggs e referências honrosas que ela fazia a cultura nerd/pop dos anos 80 e 90.

Agora, um pouco mais experiente nas artes da escrita, Cline reduz consideravelmente seus easter eggs e cria uma história original e criativa, que não deixa de honrar seus antigos mestres, mas que já consegue andar com as próprias pernas. Senhoras e senhores, entrem em seus cockpits e preparem-se para a invasão de Armada!

Protagonistas carismáticos são a chave do sucesso

Uma das primeiras coisas a se elogiar na história de Armada é o seu protagonista: Zack Lightman é um jovem de 20 anos que está encerrando sua vida escolar de forma não tão satisfatória assim. Sem muita perspectiva de vida, o rapaz trabalha em uma loja de games e é viciado em um MMOG (Massive Multiplayer Online Game) que dá nome ao livro. Sempre de saco cheio do cotidiano, é nos campos de batalha espacial de Armada que Zack encontra sua diversão e aventura, o que lhe dá a motivação para ser um dos dez melhores pilotos do jogo em todo o mundo.


FanArt de Zack Lightman
 A história começa a se desenrolar quando Zack, em um dia normal em sua escola, avista pela janela uma das naves alienígenas que matara inúmeras vezes dentro de Armada. Em dúvida do que estava acontecendo ali, Zack começa uma corrida contra o tempo que o leva a uma aventura épica, misturada com elementos de ficção científica, investigação e comédia.

O carisma do protagonista é principalmente de ser tão real. Zack é um jovem perdido em suas rotinas, mas não é aquele fracassado que apanha no colégio. Ele é impulsivo, mas não burro. É tímido, mas não deixa de tentar se dar bem com uma garota por isso. E além de tudo, é nerd. Mas não aquele nerd "cdf" caricato de óculos e espinhas que a mídia adora retratar. Um nerd "real" como todos aqueles que pegam Armada para ler. Além disso, o livro ainda conta com alguns clichês muito bem vindos como a coragem e proatividade que é bem vinda a quase todo protagonista, além de algumas dúvidas e inseguranças normais para um jovem de 20 anos.

Um enredo criativo e honroso

Se em O Jogador N° 1 Cline investe pesado nas referências a jogos de videogame antigos e elementos da cultura pop como O Senhor dos Anéis, Star Wars, De Volta Para o Futuro e Dungeons & Dragons; em Armada ele segue em outra direção, a do espaço sideral. Porém, como citado anteriormente, essas referências são muito mais leves que em seu primeiro livro, e a história não se apoia praticamente em nada delas para se desenrolar, o que é muito positivo.

Obras como Star Trek, Star Wars, Contatos Imediatos do Terceiro Grau, O Jogo do Exterminador, E.T. O Extraterrestre, Perdidos no Espaço e EVE Online são constantemente citadas ao longo das páginas, uma vez que os personagens vivem no mesmo mundo que o nosso, porém levemente no futuro (2018). Outras tantas são citadas rapidamente, mas de forma brilhante e em certas horas até cômicas, como World of Warcraft, Space Invaders, O Senhor dos Anéis, Blade Runner, Homens de Preto, Doctor Who e outras. 



A trama se inicia mais cômica e vagarosa e se desenvolve aos poucos para uma ação desenfreada, momentos dramáticos e repercussões até bastante surpreendentes. Tudo isso para convergir em um final que literalmente foge a regra e surpreende pela originalidade. Tudo isso regado bons diálogos, balanço ótimo de tensões e alívios cômicos e claro, enxurradas de temáticas que nerd nenhum colocaria defeito.

Um filme em páginas

Outra das características marcantes de Armada é a capacidade que a sua narrativa tem de deixar o leitor tão preso a ela que dá a sensação de se estar assistindo um filme. Se isso é bom ou ruim, cabe a cada leitor julgar por si só, mas em vários momentos da história, nossa mente parece que pede para ver aquilo na tela de um cinema. Batalhas épicas de naves estelares, corridas desenfreadas pela sobrevivência e menções incríveis a trilhas sonoras clássicas dos anos 80 e 90 só nos instigam mais e mais. 



















Além do livro contar com cenas incríveis e uma trilha sonora prontinha para se pesquisar e ouvir, seus personagens pedem por um quê a mais de visual. A charmosa e independente Alex, o grande RedJive, os melhores amigos de Zack, Cruz e Diehl, além de diversos outros personagens que combinam muito bem estereótipos interessantes e carisma interessante. Tudo isso muito bem narrado na primeira pessoa, aos olhos do próprio Zack. Dividir os pensamentos com um protagonista tão interessante e fácil de se identificar só torna a história mais interessante ainda.
Só por dirigir um DeLorean, Ernest Cline já merece respeito!
Entretanto, como o livro é focado para o público nerd jovem, a trama pode ser vista até como um tanto simples para alguns leitores mais especializados e amantes de grandes sagas como O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Gelo e Fogo. Mas não se assustem, Armada é um livro simples de fato, mas a gradeza dele está exatamente aí: contar uma história tão carismática e interessante de forma tão simples. Se Ernest Cline começou seus passos como escritor de forma tão interessante em O Jogador N° 1, aqui ele já está andando quase sem apoio nenhum. Uma leitura recomendada para amantes de sci-fi, sem dúvidas.

Além disso, parafraseando o que o próprio George R. R. Martin disse sobre o livro, Armada "é uma mistura saborosa de Star Wars, O Último guerreiro das estrelas, Independence Day e uma partida de Space Invaders". Só por aí temos uma ideia do que esperar da obra. E se O Jogador N° 1 fizer de fato grande sucesso nas telonas quando for dirigido por Steven Spielberg, por que não sonhar em ver Armada nos cinemas um dia?




Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.


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