“Eu tive um sonho estranho...”
O filme trás a história de dois adolescentes do ensino médio: a primeira é Mitsuha Miyamizu, uma garota que mora com sua avó e irmã caçula na cidade de Itomori, região montanhosa de Hida, no Japão. Apesar dos bons amigos e o fato de ser a filha do prefeito da cidade, ela vive entediada com sua rotina campestre e deseja uma vida mais agitada, tendo como maior sonho morar em Tóquio. O outro adolescente é Taki Tachibana, um garoto que mora com seu pai em Tóquio, e que concilia seus estudos com um trabalho de meio período como garçom em um restaurante. Ele almeja o mais rápido possível largar essa rotina expediente para se tornar um arquiteto.
Dois personagens que vão se conhecer muito mais do que esperavam |
A coisa fica interessante quando estes dois começam a mudar de corpo intermitentemente, de início julgando serem um sonho, mas logo se dão conta que diversas mudanças ocorrem quando “retornam” a suas vidas cotidianas, com seus amigos e familiares dizendo que eles tem agido do forma estranha recentemente. Isso inicia uma confusa e divertida interação entre os dois, na qual procuram se comunicar de modos bem estranhos um com o outro, além de promoverem escolhas que comprometem a imagem deles diante das pessoas que já os conhecem.
Se afeiçoando aos personagens e ao ambiente
Uma coisa que o filme sabe fazer de forma bem compassada é justamente o desenvolvimento dos personagens principais e interação com seus coadjuvantes. A dosagem na mudança de foco entre Taki e Mitsuha é bem eficiente, dando a todo o momento a sensação que nenhum está “roubando” mais cena que o outro. Isso é algo completamente difícil de ser trabalhado, ainda mais tendo como protagonistas dois personagens que são completamente diferentes e vivem em ambientes altamente contrastantes, e Makoto Shinkai soube encontrar o balanceamento perfeito entre ambos.
Quando você acha que a atenção está muito voltada pra um, o filme parte imediatamente para o outro |
Além deles, outros personagens do convívio de ambos como a avó Hitona, a pequena Yotsuha, o casal Sayaka e Tessie, a senhoria Miki e os fiéis amigos Tsukasa e Shinka ganham um espaço considerável na trama achando por vezes engraçado a mudança de comportamento que Mitsuha e Taki apresentam no decorrer da trama. Outro fator bem interessante é o modo como os protagonistas se ajudam em algumas determinadas situações, como Mitsuha usando todo o seu jeito meigo e atencioso para fazer Taki se aproximar mais da Miki, enquanto Taki com seu jeito mais descolado e cabeça-quente faz com que Mitsuha fique mais popular em sua escola.
A interação com os coadjuvantes chegam a serem engraçadas em alguns momentos |
A fotografia também é um dos maiores destaques do filme. Kimi no na wa trás ambientações lindíssimas baseadas em paisagens reais do Japão, como o prédio da NTT Docomo e o Santuário Shintoísta Suga, localizado em Shinjuku, Tóquio. Mas certamente um dos maiores destaques da animação é o Lago Suwa em Nagano, o qual não é apenas bastante referenciado durante todo o filme como é apresentado visualmente de modo esplendido em sua mistura de cores próximo ao crepúsculo. Simplesmente fascinante.
Os cenários são um verdadeiro show visual |
Uma fantasia científica disfarçada de comédia romântica
Até o primeiro ato do filme certamente muitos podem se pegar assistindo algo similar a Se eu fosse você, filme brasileiro de 2006 com Glória Pires e Tony Ramos, porem mudando a ideia de um casal que já se conhece há anos para dois jovens que nunca se viram na vida e não sabem absolutamente nada um do outro (o que já dá uma complexidade muito melhor para trama). No entanto, a partir do segundo ato, a história toma um caminho ainda mais ousado inserindo conceitos mirabolantes que, de primeira impressão, alguns podem até questionar “Como o autor pensou em fazer uma coisa dessas?” ou mesmo pensarem “Mas o que é que eu estou assistindo? Ainda é o mesmo filme?”
Você certamente ficará com essa mesma expressão ao decorrer do filme |
O que se inicia como um comédia com intrigas adolescentes, logo se converte num inacreditável drama com um dose de suspense, o qual ainda dá procedimento a ideia central da trama (mudanças de corpos involuntárias) porem inserindo novos conceitos de ficção científica, além de fenômenos naturais, crenças religiosas e até mesmo tempo-espaço. Para não estragar a experiência de quem ainda não assistiu, direi apenas que se preparem para bons momentos de plot twist com os quais nunca imaginou se deparar.
Momentos de "explodir a cabeça" te esperam aqui |
Um tempo valioso muito bem gasto
A pesar de sua simplicidade no desenvolvimento e ser bem “pé no chão” com suas altas doses de mistura entre fantasia e pseudo-ciência, Kimi no na wa é um daqueles filmes que te prende diante da vastidão de elementos visuais e suas reviravoltas bem inesperadas. Além disso, muitas questões populares embasando tradições e escolhas pessoais são bem exploradas, trazendo inclusive boas reflexões sobre como deveríamos usufruir melhor a vida e aproveitar o que há de bom ao nosso derredor.
Romance, fantasia e sci-fi se misturam nesse enredo incrível |
Pra quem conhece os trabalhos de Makoto Shinkai, percebe como seus roteiros por vezes chegam a serem previsíveis, algo que esta obra conseguiu quebrar com maestria. Kimi no na wa não só se mostra superior em detrimento de seu conceito inicial como também consegue se sobressair exaltando quesitos completamente diferenciados muito bem encaixados. No final das contas, você se achará tão imerso nesta obra que poderá até sentir-se tentado a revê-la logo em seguida. E se ainda não viu, corra agora mesmo e assista essa maravilha na Netflix.
Ficha Técnica
Nome: Your Name
Nome Original: Kimi no na wa
Origem: Japão
Ano de produção: 2016
Lançamento: 26/08/2016 (Japão) 11/10/2017 (Brasil)
Gênero: Animação, Drama, Romance, Fantasia
Duração: 106 minutos
Classificação: Livre
Direção: Makoto Shinkai